terça-feira, 5 de maio de 2009

dos romances de cavalaria à epopeia da pirataria

Apesar de já o ter há muito em minha casa, só agora, numa fase de ociosidade, consegui a disponibilidade para a leitura do "D.Quixote", o de la Mancha, o de Cervantes.

É certo que me diverti, é certo que senti o respeito que se sente perante algo de muito bem feito, mas não pude deixar de me espantar quando me apercebi que o livro fora escrito no tempo de Filipe II de Espanha...

Fui até confirmar qual o tempo dos romances de cavalaria...

Após a queda do Império Romano,com o surgimento do feudalismo, na Europa governavam os senhores feudais.

O feudalismo tinha como base da sua hierarquia a classe dos cavaleiros; com efeito, sobre eles recaía a responsabilidade da manutenção da ordem, do respeito à autoridade.

Isto porque os senhores feudais não tinham dinheiro para sustentar exércitos, assim sendo, promoviam alguns nobres a guerreiros. Esta promoção tinha como efeito tornarem-se os nobres vassalos dos senhores feudais, recebendo deles um feudo, com o qual deveriam lucrar o suficiente para se equiparem militarmente, cavalos incluidos, e estarem aptos a qualquer momento a responder à chamada do seu senhor.

Estavámos na época de Carlos Magno, estávamos nos seculos X - XII. E muitos foram os romances de cavalaria que nos ficaram dessa época: a Canção de Rolando, Abelardo e Heloísa, Romeu e Julieta, Tristão e Isolda, as Lendas do Graal, os Cavaleiros da Távola Redonda, o Parsifal...

Mas, já no seculo XIII o feudalismo transformou-se em monarquia centralizada...

Ora Cervantes escreve no sex XVI, 300 anos após o fim do mundo que sustentou os romances de cavalaria medieval...

Com efeito, vivendo ao tempo de Filipe II de Espanha, que foi o I de Portugal, viveu o período histórico avassalador, no qual, quer Portugal, quer Espanha, tinham dado novos mundos ao mundo.

A realidade do mundo estava tão longe da cavalaria medieval, que, se por lado, não me pareceu lógico parodiar uma realidade de todo não correspondente ao tempo, por outro lado, pareceu-me ilógico fazê-lo, quando tanto haveria para escrever sobre a epopeia de tanta e tanta descoberta...
Só a Inquisição não chega para me esclarecer...

Bom, querendo escrever um romance de aventuras, (que foi o que fez) porque não o teria feito com base na aventura espanhola lá pelas Américas?
À parte esta minha perplexidade, nada retiro à fabulosa obra de Cervantes, mas sem dúvida que me questiono...


Nós por cá, fizémos romance de aventuras à séria, e dentro do tempo, aquele tempo de uma sabedoria de experiência feita.

Foi então que fui ler a Peregrinação.

A Peregrinação de Fernão Mendes Pinto é um livro de aventuras, de aventuras verdadeiramente vividas, por um homem aventureiro que foi traficante e náufrago, pirata e mercenário, escravo e comerciante, embaixador e ladrão.

Embora a sua cultura lhe adviesse apenas das experiências que então viveu, desde o Mar Vermelho a Ormuz, de Diu a Malaca, da Ilha de Java à de Hainão, da China ao Japão, a sua escrita é colorida e pormenorizada a descrição dos países por onde passou, do seu ambiente físico ao humano, do ambiente político ao da organização social, ( é efectiva a sua admiração pela excelente organização, por exemplo, da sociedade chinesa)

No entanto de tal modo a obra dá uma imagem pouco gloriosa das nossas glórias passadas lá pelas bandas do Oriente, que é, por vezes, considerada uma obra mentirosa, pouco digna de atenção e pouco credível

"O que mais chama a atenção é o seu conteúdo exótico. O autor é perito – diz-se mesmo que pintor – na descrição da geografia da Índia, China e Japão e da etnografia: leis, costumes, moral, festas, comércio, justiça, guerras, funerais, etc. Notável é também a previsão da derrocada do Império Português, corroído por muitos vícios e abusos."


À parte o que relata de toda a espécie de novidades que via, algumas das quais tão estranhas, na altura, à nossa mentalidade, como as religiões orientais, por exemplo, vou resumir, a história da sua aventura, o mais fielmente que me for possivel..
Porque me entretém..., porque me diverte..., tal como me divertiu francamente a leitura da Peregrinação

É uma outra visão da luta pelo domínio dos mares.

1521
Aos 10 anos, chegou Fernão Mendes Pinto a Lisboa, pela altura da morte de D Manuel.
Trouxe-o um tio seu e arranjou-lhe um trabalho. Ficou ao serviço de uma senhora nobre. O que teria acontecido ano e meio depois de estar ao seu serviço, ninguém o sabe e ele não o diz, mas fugiu " com a maior pressa" que pôde, e embarcou com destino à India.

A embarcação fez escala em Setubal, onde estava D João III, com todo a corte, fugido à peste.
Entre Setubal e Sesimbra foi o barco albaroado e roubado por um navio de piratas franceses, e Fernão Mendes Pinto feito prisioneiro, com outros 16. Mas outro assalto, feito pelos piratas franceses, aconteceu pouco depois. O corsário francês roubou outra nau que transportava para Lisboa açúcar e escravos. Dado o pouco espaço disponível na nau, teve de se ver livre de alguns prisioneiros, daí resultando que lançaram Fernão M Pinto , entre outros, na praia de Melides. Acabou por ser acolhido por D Jorge, filho bastardo de D Joao II, a quem serviu 4 anos e meio.

1537

Decide embarcar para a India porque o que lhe pagavam não lhe bastava.
Na escala feita em Moçambique, foram chamados a Diu por "suspeita que se tinha da armada do Turco". Com efeito, pela posse de Diu, o governador Nuno da Cunha tinha morto o sultão Bandur, rei de Cambaia, e suspeitava-se de represálias Turcas

Chegaram então a Diu. O governador mandou-o ao estreito de Meca, para saber se a armada Turca já tinha saído de Suez, empresa na qual embarcou na esperança da facilidade de enriquecimento rápido " que era o que eu então mais pretendia que tudo"

A seguir à ilha de Socotorá, a caminho do Mar Vermelho, foram atacados por uma embarcação que vinha de Jeddah, mas venceram o combate, pelo que roubaram o que havia para roubar, mataram os que havia para matar e souberam que os Turcos já tinham saído de Suez.

Não tiveram foi tempo de o ir dizer ao governador de Diu, porque foram assaltados, e desta vez vencidos, pelo que os sobreviventes, entre os quais Fernão Mendes Pinto foram feitos cativos e vendidos em leilão. Algumas desventuras depois, acabou sendo entregue aos Portugueses em Ormuz, por um Judeu.

Chegados novamente a Diu, eoncontraram-na fortemente cercada pelos Turcos; fugiram então para Chaul, a caminho de Goa.
O governador de Goa deu-lhe uma nova missão, agora a de ir certificar-se que a rainha de Onor não apoiava os Turcos, dado haver suspeitas de que fazia jogo duplo com Turcos e Portugueses. Fernão Mendes Pinto aceitou essa empresa por lhe parecer " que lá me poderia Deus abrir algum caminho com que prouvesse de outra melhor capa que a que então trazia"

Mas, a caminho, foram atacados e vencidos por uma embarcação Turca. Foi então para Malaca, cujo governador, Pero de Faria, o incumbiu de descobrir onde ficava a Ilha do Ouro, que se supunha na costa oceânica de Samatra.

O caso é que em Malaca, tínhamos o apoio do rei dos Batas, que pedia em troca desse apoio, ajuda contra os Achens (um reino do extremo noroeste da ilha de Samatra), com os quais lutava, por estes lhes terem conquistado duas cidades - Jacur e Lingau.

Ora, essa aujda pedida era interessante para os Portugueses, dado que os Achens eram apoiados pelos Turcos contra Portugal, na luta pelo controlo, agora nas mãos dos Portugueses, das rotas do comércio, que vinham do Mar da China e do Japão, do Mar de Banda e das Molucas, de Sunda, do Bornéu e de Timor, para a India.

Assim, Fernão Mendes Pinto, com o apoio dos Batas, atravessou a ilha de Samatra, por rio, até ao Oceano, com o objectivo de descobrir onde ficava a tal Ilha do Ouro, embora oficialmente, tivesse dito ao rei dos Batas, que o fazia para fazer o reconhecimento do terreno, a fim de determinar qual o calado dos navios que haveriam de vir para os ajudar contra os Achens.

Voltando a Malaca, deu as informações sobre a Ilha do Ouro, que, segundo as informações recebidas, ficava 5º a Sul, a 60 léguas da Ilha de Samatra, na costa oceanica

Com base nesta informação, foi esta Ilha dada, por D João III, a Jerónimo de Figueiredo, o qual, não tendo muita segurança da veracidade da existência de tanto ouro na ilha e "desejando de ser rico mais depressa do que o esperava pela via que levava, se passou à costa... onde tomou algumas naus que vinham do estreito de Meca" .
Estes actos de pirataria foram absolvidos, dado Jerónimo de Figueiredo ter posteriormente .

Fernão Mendes Pinto está em Malaca. O rei de Aaru vem pedir aos portugueses, soldados e munições para se defender do rei de Achém, que lhe pretendia conquistar as terras, para ficar mais próximo das possessões dos portugueses e, com a ajuda dos Turcos, conquistar o controlo dos estreitos de Singapura e Sabaom , a ligação entre o Pacifico e o Indico.

Baseava-se este pedido no facto de que o rei de Portugal tinha assente em os defender dos seus inimigos, se não quebrassem a sua lealdade para com a coroa Portuguesa. No entanto, o seu pedido não foi compreendido...

Foi só já mais tarde que Fernão Mendes Pinto, segundo a instrução do governador Pero de Faria, levou algum pouco e tardio apoio ao rei de Aaru, o que lhe mereceu ouvir as palavras " descuido dos seus capitães que, cegos e atolados em suas cobiças e interesses, deixaram criar a este inimigo tanta força e tanto poder que temo já quando quiser refreá-lo não possa"

À saida do reino de Aaru, naufragaram e perderam-se. Foram ter a Siaca, e Fernão M Pinto acabou sendo levado a Malaca, por um Mouro, que o entregou em troca da isenção do pagamento dos pesados impostos que os portugueses cobravam para aí se poder comerciar e assim pôde vender a sua mercadoria free tax.

O reino de Aauru, acabou sendo perdido a favor dos Achens

Pêro de Faria, o governador de Malaca, deu-lhe outra missão , desta vez junto ao rei de Patane, para "abrir algum caminho por onde eu viesse a ter alguma coisa de meu"; Mas, a caminho de Patane, foram assaltados e roubados.

Chegou, no entanto a Patane, ondo foram avisados, que no rio Calantão, que ficava dali a 18 léguas, para Sul, estavam 3 juncos da China, muito ricos, e decidiram logo atacá-los. Roubaram o que quiseram e voltaram a Patane.

Aí Fernão Mendes Pinto conheceu António de Faria, capitão de uma outra embaixada de Pêro de Faria ao rei de Patane. Ora António de Faria trazia uma roupas da India que ali ninguem comprava, pelo que se decidiu a ir ao reino de Sião ( actual Tailândia ) para as trocar por ouro e pedrarias da ilha do Borneu. Fernão Mendes Pinto foi com ele.


1540
A bordo das naus capitaneadas por António de Faria, passaram por uma ilha " na altura de 8º e 1/3 da parte norte, e quase noroeste/sudeste com a costa do Cambodja " distando de terra umas 6 léguas, foram por esse rio acima, roubaram uns tantos navios, "pelo que foi necessário sair-se logo dali" ... " e partir-se com muita pressa"

Mas... há mais rios...
E num outro, de novo assaltaram, e roubaram uma fortuna, tão grande, que precisavam de a vender rápido, dado o excesso de peso que as embarcações levavam
Foram, no entanto, assaltados no caminho. Mas venceram os assaltantes e ficaram ainda mais cheios de mercadorias, e mais ricos, porque "prouve a Nosso Senhor que se lançaram os inimigos ao mar, dos quais de afogou a maior parte e os juncos ficaram em nosso poder"

A dificuldade agora era vender, porque, quem eles tinham roubado e morto, conforme o vieram a saber, era um corsário que tinha parceria com o governador daquela provincia, a quem dava a terça parte de todas as presas que fazia , pelo que foram avisados dos perigos de negociar ali, uma vez que a noticia do que tinham feito já era conhecida...

Foram então mais para Norte, pela costa do Cambojda. Ficaram sossegados num outro rio, onde assaltaram um junco, mas afinal não era de comerciantes, era de uma noiva que se deslocava deste modo até ao noivo, mas eles ficaram com a noiva; quanto às mulheres "já de dias" que a acompanhavam, deixaram-nas na praia.

Fugiram uma vez mais e agora na Iha de Hainão, já na China, arranjaram maneira de comerciar não desembarcando, receosos de que ali as notícias dos seus feitos já tivessem chegado, justificando-se, oficialmente, com o não quererem pagar os direitos alfandegários. Assim, vieram, os interessados na compra, ter com eles, ao largo.

"Dando-se muita pressa à descarga da fazenda, em sós três dias foi pesada e ensacada, e entregue a seus donos, com as contas averiguadas e recebida a prata... e conquanto isto se fez com toda a brevidade possivel, nem isso bastou para que antes de se acabar deixasse de vir a nova do que tínhamos feito... com que toda a terra se amotinou, de maneira que nenhuma pessoa nos quis mais vir a bordo..pelo que foi forçado a Antonio de Faria fazer-se à vela e muito depressa"

Assaltaram mais umas tantas embarcações " onde se fez algumas presas boas, e , ao que nós cuidámos, bem adquiridas, porque nunca seu ( de António de Faria) intento foi roubar senão só os cossairos que tinham dado a morte e roubado as fazendas a muitos cristãos que frequentavam este enseada e costa de Ainão, os quais cossairos tinham seus tratos com os mandarins destes portos"

"E deste honrado feito ficaram os chins tão assombrados...que o próprio vice-rei o (a Antonio Faria) mandou visitar com um rico presente de pérolas e peças de ouro...pedindo-lhe para o servir como seu capitão-mor da Costa de Lamau até Liampó", (ou seja, desde a Indonesia até à cidade chinesa de Ningbo, ou seja o reino da pirataria...) o que foi recusado, por António de Faria preferir agir livremente, sem ter de dar percentagens ao vice-rei.

Saindo do porto do rio Madel, e apesar dos tripulantes estarem dispostos a ver repartido entre si o saque, que já consideravam suficiente, e irem para as suas casas, António de Faria não se mostrou ainda satisfeito. Na continuação da viagem, acabaram naufragando, perderam tudo no mar e chegaram nus e descalços à Ilha dos Piratas.

Na Ilha dos Piratas, acabou chegando uma embarcação, que assaltaram e assim puderam sair da Ilha, com o objectivo de ir para " Liampó que era um porto adiante dali, para o norte, duzentas e sessenta léguas, porque poderia ser que ao longo da costa nos melhoraríamos doutra embarcação maior e mais acomodada a nosso propósito"

Efectivamente, em Xamoy encontraram uma embarcação que assaltaram, mas só lhes serviu para substituir a sua própria embarcação, pois que como a carga era só de arroz, deitaram ao mar a maior parte.

Mais acima cruzaram uma embarcação de um outro corsário - Quiay Panjão, a quem se decidiram unir. E sabendo, através dele, novas do paradeiro do pirata que o tinha derrotado, Antonio de Faria foi à procura das embarcações onde ele se encontrava.
Derrotou-o e " animados então os nossos com o nome de Cristo Nosso Senhor, por quem chamavam contínuamente, e com a vitoria que já conheciam, e com muita honra que tinham ganhada, os acabaram ali de matar"

À latitude de 26º naufragaram de novo e de novo tudo perderam no mar.
Estavam perto da cidade de Nouday, onde estavam presos alguns portugueses, pelo que para lá foram e depois de luta travada e soltos os portugueses " foi mandado aos soldados e à mais gente da nossa companhia que cada um por si apanhasse o que pudesse... mas que lhes rogava que fosse muito depressa" , tendo embarcado " todos muito ricos e muito contentes, e com muitas moças muito fermosas"

No dia seguinte foram a uma povoação "da outra parte da borda da água, e a achou despejada de toda a gente... mas as casas com todo o recheio de suas fazendas e infinitos mantimentos, dos quais António Faria mandou carregar"

Para que os habitantes se esquecessem dos seus feitos, foram "invernar os 3 meses a uma ilha... ao mar de Liampó quinze leguas", sem no entanto, antes disso terem combatido e ganho com isso mais uma tanta prata do Japão

Em Liampó , onde viviam mais de 1000 portugueses, foram recebido com toda a pompa e circunstância, ouviram missa cantada, " na qual pregou um Estevão Nogueira que aí era vigário", foi-lhes oferecido um banquete . Ficaram por lá uns 5 meses, onde souberam que numa ilha de nome Calemplui havia 17 jazigos dos reis da China


1542

Rumo a Calemplui "iam 56 portugueses e um padre e 48 marinheiros", sendo o piloto o corsario Similau, que sendo daquela região, saberia qual a rota a tomar.

De Liampó (actual Ningbo), para o Golfo de Nanquim, acabaram por chegar "a uma baía em altura de 40º, cujo clima achamos um tanto mais frio" .

Fizeram-no a conselho de Similau, para não entraram directamente pela enseada de Nanquim ( que fica a pouco mais de 30º) o que seria perigoso.
E, assim iriam por outro rio que lá os levaria igualmente. Desta passagem faz relato de novas especies de peixes, de várias montanhas que atravessaram, dos homens selvagens, habitantes da serra de Gangitanou, " que é gente muito rustica e agreste e a mais fora de toda a razão de quanta atégora se têm descoberto"

Lá continuaram por aquele rio acima, até que chegaram a enseada de Nanquim, 2 meses e meio depois de sairem de Liampó. Daí alcançaram a ilha de Calemplui situada a meio do rio.

"Era esta ilha toda fechada em roda com um terrapleno de cantaria de jaspe, de vinte e seis palmos em alto, feito de lajes tão primas e bem assentadas que todo o muro parecia uma só peça"
Entrando na ilha, caminhando em direcção ao que chama de ermida, entraram "e achou dentro dela um homem velho, que ao parecer seria mais de cem anos, com uma vestidura de damasco roxo muito comprida, o que no seu aspecto parecia ser homem nobre"
Hiticou, assim se chamava o monge, assitiu ao "tumulto e rumor que todos fazíamos no desarrumar e despregar dos caixões" cheios de prata, tendo-lhe Antonio de Faria dito que " não se escandalizasse, porque lhe certificava que a muita pobreza em que se via o fizera fazer aquilo que na verdade não era de sua condição e que depois que falara com o monge, arrependido do que cometera, se quisera logo tornar, porém que aqueles homens lhe foram à mão... "

Alguns diziam ser melhor matar o monge, não o quis Antonio de Faria fazer, pensando que, dada a idade do monge e o susto apanhado, seguramente nada faria e no dia seguinte saqueariam as outras capelas dos jazigos dos reis.

Mas o monge deu o alerta a todos os outros, conforme eles próprios o viram porque "sendo passada uma hora depois da meia-noite, vimos em cima da cerca do pagode grande do jazigo dos reis uma muito comprida carreira de fogos"

Como homem fora de si, Antonio de Faria "subindo desatinadamente por cima das grades... correu como doudo...e foi dar a uma ermida muito mais nobre e rica que a outra, na qual estavam dous homens... vestidos em trajes religiosos...e os tomou a ambos... enquanto se apanharam do altar um idolo de prata de bom tamanho, com uma mitra de ouro na cabeça e uma roda na mão... mais tres candeeiros de prata com suas cadeias muito compridas"

Destes monges teve a noticia segura de que o alarme tinha sido dado, pelo que não seria possivel cumprir aquilo que desejavam, ou seja, saquear os 17 jazigos dos reis.

Nestes termos, voltaram à embarcação, e, pelo caminho ia Antonio Faria " depenando as barbas e dando muitas bofetadas em si por ter perdido, por seu descuido e ignorancia, uma tamanha cousa"

Em 1542, a China organizou uma ofensiva contra os portugueses para vingar certas ofensas, nomeadamente a violação das sepulturas reais de Campeluy, levadas a efeito por António de Faria e seus companheiros, destruindo completamente a feitoria de Liampó.

Após a violação das "ermidas" , sofreram novo naufragio na enseada de Nanquim. Desaparecido ficou António de Faria. Sobreviveram 14, que acabaram por ser acolhidos numa espécie de Misericordia em Sileyjacau

Com a intenção de chegar a Nanquim, foram esmolando pelas vilas pelas quais iam passando, numa delas foram presos, acusados de serem ladrões.
E foi, enquanto presos, que chegaram a Nanquim onde a Justiça os enviou, para melhor apelação, a Pequim.
Enquanto preso, nada mais tendo que fazer que estar atento ao que vê, dá relatos circunstanciados
De tudo o que vê e de tudo o que procurou saber, ressaltam as dezenas de páginas repletas de admiração pela excelência da China, pelo modo como cada coisa está organizada, pelas suas riquezas e religião

No Julgamento, em Pequim, o rei, ao saber que vinham de um país a 3 anos de distância por mar, comenta a sua estranheza perante "homens que por indústria e engenho voam por cima das águas todas para adquirirem o que Deus lhes não deu, ou a pobreza neles é tanta que de todo lhes faz esquecer a sua pátria, ou a vaidade e a cegueira que lhes causa a sua cobiça é tanta que por ela renegam a Deus e a seus pais" ;

Do Julgamento em Pequim, e da cidade, temos relatos minuciosos da Sala de audiências, do fausto, dos costumes, dos cerimoniais e o dos povos, do funcionamento da Justiça, das inúmeras riquezas naturais, das rendas de cada cidade, da organização da defesa das cidades, da admiração perante tão elevada civilização, que o fez pensar que não há India que se lhe assemelhe e que mais ganharíamos em conquistar a China que a India.

"Não deixarei de dizer...que nos vinte e um anos que...atravessei muita parte da Asia...nem o que há em cada uma delas (cidades europeias) nem o que há em todas juntas vem a comparação com o que há disto na China"

Diz mesmo que é neste propósito que tanta indicação precisa dá sobre este país, sobre as fragilidades da defesa das cidades por onde passa, factos que seguramente lhe devem ter parecido revelantes o suficiente para pedir uma tença a el-rei de Portugal, uma vez regressado à Pátria.

"...mas o sítio do clima em si, é o melhor e o mais fértil e abastado de todas as cousas que quantos eu nunca vi... que se ela estivera em nosso poder, quiçá que estivéramos mais aproveitados do que hoje estamos na India"


1544

Fruto do julgamento, os 9 são condenados a 1 ano de degredo nas obras de Quansi, na Muralha da China

Aí serão encontrados pelas tropas dos Tartaros que invadem a China, perante os quais se tornam notados
"Se algum de vós outros, pelo muito que dizeis que tendes visto do mundo, entendesse ou soubesse de algum ardil com que o Mitaquer, nauticor de Lançame, pudesse tomar este castelo, eu vos afirmo que em vez de serdes vós seus cativos, o será ele vosso"

A que Jorge Mendes respondeu : " Se o senhor Mitaquer, nauticor de Lançame, nos der um assinado seu em nome de el-rei, de nos mandar pôr seguros nas águas do mar da ilha de Ainão, donde nos possamos ir livremente para nossa terra, quiçá que lhe farei eu tomar o castelo com muito pouco trabalho"

E assim foi, só que Jorge Mendes ficou com os Tartaros e os restantes foram acampanhados até ao que seria o destino que tinham pedido.

Mas guerrearam tanto entre si os 8 restantes, que o acompanhante os largou " espantado deste nosso barbarismo" e " se partiu muito enfadado"

1545

"E continuando nossa viagem assim destroçados como íamos, ... nos deu um temporal de vento esgarrão por cima de terra tão impetuoso que naquela mesma noite a perdemos de vista... bordejámos às voltas, de um rumo no outro, vinte e três dias com assaz de trabalho, no fim dos quais prouve a Nosso Senhor que vimos terra... nos saíram da terra duas almadias pequenas em que vinham seis homens" a quem pediram licença para aí comerciar o que levavam, ao que "um dos seis nos respondeu que a licença, o nautoquim senhor daquela ilha de Tanixumá, a daria de boa vontade se lhe pagássemos os direitos que se costumavam pagar em Japão, que era aquela grande terra que defronte de nós aparecia"

Do Japão realço o relato do sucesso que teve a espingarda de Diogo Zeimoto, " e quando o viu vir com a espingarda às costas, e dous chins carregados de caça, fez disso tamanho caso que em todas as cousas se lhe enxergava o gosto do que via, porque como até então naquela terra nunca se tinha visto tiro de fogo, ... e assentaram todos que era feitiçaria"; sucesso que lhes valeu as boas relações que por essa novidade estabeleceram com o rei.

É na Ilha de Tanegashima, a que Fernão Mendes Pinto chama Tanixumá, que existe, na capital, um templo xintoista dedicado à espingarda, no qual se celebra uma dança da espingarda

Do Japão, realço igualmente a notícia de que comiamos com as mãos, o que, perante os japoneses, que usavam os pauzinhos, era visto como barbarismo

Regressado a Liampó, dando conta da novidade dessa nova terra encontrada, onde qualquer coisa rendia muita prata notícia " de que todos ficaram tão contentes que não cabiam em si de prazer, e logo ordenaram uma devota procissão para darem graças a Nosso Senhor por tamanha mercê" , após o que se decidiram logo numa viagem para ir negociar no Japão " e com esta sede e desejo do interesse, em sós quinze dias se fizeram prestes nove juncos ... e todos tão mal negociados e tão mal apercebidos que alguns deles não levavam pilotos mais que sós os donos deles, que nenhuma cousa sabiam daquela arte" pelo que grande naufrágio sofreram;

"Os poucos que escapámos deste miserável naufrágio, que não foram mais que vinte e quatro...", não conseguiram chegar a Tanixumá, acabaram na cidade de Pongor

Desta Ilha dos Léquios, que jaz "situada em vinte e nove graus... tem serras de que se tira muita quantidade de cobre... de aço, chumbo, estanho, pedra-ume, salitre, enxofre, mel, cera, açucar e grande quantidade de gengibre muito melhor e mais perfeito do que o da Ìndia. Tem tanbém muita medeira de angelim, jatemar, poitão, pisu, pinho manso, castanho, sovro, carvalho e cedro, de que se podem fazer milhares de navios... os habitantes... pouco inclinados às armas... por onde nos parece que será muito fácil conquistá-los...com quaisquer dois mil homens se tomara e senhoreara esta ilha, com todas as mais destes arquipélagos, donde resultará muito maior proveito que o que se tira da India"

De Pongor, Fernão Mendes Pinto "chegou a salvamento a Malaca", onde ainda era governador Pero de Faria, que o incumbiu de nova missão, que era negociar com o corsário Lançarote Guerreiro, para que ajudassem na previsível invasão de Malaca pelos Achéns.

1546

Enquanto procura o corsário, acaba envolvendo-se, a soldo do rei Bramá, nas ferozes lutas que então se travavam entre os variadíssimos reinos , e, como habitualmente, são notáveis os seus relatos do que vê

As lutas eram pela posse do reino do Pegu. Antigo reino situado no actual espaço geográfico da Birmânia, o Pegu compreendia as províncias de Baçaim, Rangune, Henzavadi, Prome, Tongo e Sirião.A partir dos seus abrigados e estrategicamente localizados portos de Bacaim e Rangune, o Pegu desenvolvia um importante comércio marítimo com a Malásia, a Indonésia e, sobretudo, com a Índia, a China e a Indochina.

Apesar de muitos Portugueses se terem envolvido nestas lutas, a título individual, possivelmente na mira dos saques, Portugal só assumiu o seu domínio em finais do sec XVI

Com o rei Bramá desbaratado, no meio de uma confusão, "e por ser noite, quis Nosso Senhor que nós, os oito portugueses que aí nos achámos, escapássemos fugindo" Encontraram então uma embarcação, cujos tripulantes, depois de comer, adormeceram " vendo nós então o tempo disposto para nos aproveitarmos da mercê que Nosso Senhor nos fazia, nos fomos todos oito muito caladamente à embarcação... e nos embarcámos todos nela com muita pressa..."

Foram, no entanto assaltados, e, da luta, sobreviveram 5. Acabaram por encontrar, no reino de Pegu, Luis de Montarroyo, que ia para Begala e foram com ele. De Bengala, numa fusta de um Fernão Caldeira, chegaram a Goa.

"E com isto me tornei logo naquela moução a embarcar para a banda do sul e tornar de novo a tentar a fortuna pelas partes da China e do Japão".
Aproveitou um junco que ia para Sunda, aportando depois em Banta, " que é onde comumente os portugueses fazem sua fazenda. E porque neste tempo a terra estava muita falta de pimenta, nos foi forçoso invernarmos ali aquele ano"

Quis o destino que , por mandado de el-rei de Demá, imperador de toda a Ilha de Java, pedia-se aos seus "vassalos" que o ajudassem na guerra com o reino de Passervão; nessa armada do rei de Sunda, que se juntaria ao rei de Demá, iam 40 portugueses, entre os quais Fernão Mendes Pinto

Algumas aventuras e desventuras depois, após cerco à capital de Passervão, após a morte do rei de Demá, " e como então toda a terra andava revolta... pedimos licença ao rei de Sunda para nos irmos para o porto de Banda, onde estava o nosso junco, pois a monção da China era já chegada"

"houvémos vista de uma ilha que se dizia Pulo Condor, a qual nos distava em altura de oito graus e um terço, noroeste-sueste com a barra do reino Cambodja... nos deu um tempo de sul, de tormenta de ventos tão impetuosa que de todo estivémos perdidos... até que despois de um grande espaço nos abriu peça sobrequilha de popa... permitiu Deus Nosso Senhor... que, sem sabermos como nem vermos cousa nenhuma, varássemos por cima de uma restinga de pedras, na qual o junco se fez em quatro pedaços, com morte de sessenta e duas pessoas. E como este desaventurado sucesso nos tirou de todo o sentido e as forças, nenhum de nós bouve que se lembrasse de procurar meio nenhum de sua salvação, como fizeram os chins... que foram tão industriosos que antes que fosse manhã tinham feito uma jangada dos pedaços de paus... e com as cordas das velas as ataram... tanto que pedindo Martim Esteves ... que o quisessem recolher consigo, lhe responderam que por nenhum caso podia ser, o que chegando às orelhas ... de Rui de Moura, não podendo sofrer a ingratidão e descortesia... se ergeu... e nos fez a todos uma breve prática em que nos disse que nos lembrássemos quão afrontosa e aborrecida era a covardia, e que vissemos quão necessário nos era para nossa salvação trabalhar por tomarmos aquela jangada... com um novo esforço que nos deu então a honra e a necessidade, remetemos vinte e oito portugueses, que éramos, todos num corpo... de maneira que em espaço de três ou quatro credos os quarenta chins foram todos mortos... Mas também parece que em parte nos desculpa ser a necessidade tamanha que nos forçou a fazermos tamanho desatino"

1547

Despois de 2 vezes vendido, viu-se na cidade de Odiá, (hoje Ayuttaya) que é a metrópole do império de Sornau, onde se lançavam pregões para se juntarem às tropas do rei, aos quais responderam positivamente cento e vinte, dos cento e trinta portugueses que aí estavam.

Vitorioso, o rei testamenta " aos cento e vinte portugueses que com lealdade vigiaram sempre na guarda de minha pessoa, darão meio ano de tributo da rainha de Guibém, e liberdade em minhas alfândegas por tempo de três anos, sem lhe levarem cousa alguma por suas fazendas, e seus sacerdotes poderão publicar nas cidades e vilas de todo o meu reino a lei que professam, do Deus feito homem por salvação dos nascidos, como algumas vezes me têem afirmado"

Assassinado o rei, com veneno, por sua mulher, foi cremado, cujas cerimónias descreve com o pormenor e colorido habitual, mas isto foi só o princípio de uma série de intrigas políticas, que vieram a ter como consequência a tentativa de conquista da cidade de Odiá, capital de Siáo, pelo rei do Bramá


1548

O cerco à cidade, constou de 8 assaltos, sendo no último deles "na maior força desta bravíssima, horrendíssima e ardentíssima tormenta, se deu fogo aos vinte e cinco castelos, que já a este tempo estavam chegados ao muro, com que a braveza deste elemento, ajudada da força do vento, que então era grande, pegando na grande soma de barris de alcatrão que achou junto consigo, causou de novo um tão espantoso inferno (que este nome se lhe pode pôr por somente, porque não há cousa na terra com que com razão se possa comparar), que até os que estavam de fora pasmavam de medo, quanto mais aqueles a quem era forçado esperar a força dele"

O nono asalto, apesar de preparado. não se realizou, dado terem chegado notícias de revoltas no reino de Pegu, pelo que " sem fazer mais nenhuma detença, levantou o cerco", e conquistou a cidade de Pegu

"Porquanto atégora tratei do sucesso qe teve esta ida do rei do Bramá ao reino de Sião,e do alevantamento do reino de Pegu, parece-me que não virá fora de propósito tratar aqui, inda que brevemente, do sítio, grandeza, abastança, riqueza e fertilidade que vi neste reino de Sião e império Sornau, e quanto mais proveitoso nos fora tê-lo antes senhoreado que tudo quanto temos na India, e com muito menos custo do que atégora nos tem feito.

Este reino, como se pode ver no mapa, tem por sua graduação quase setecentas léguas de costa e cento e sessenta na largura do sertão... de maneira que bem se pode dizer e afirmar com verdade o que já naquelas partes ouvi muitas vezes, que é este um dos melhores reinos que há em todo o mundo e o mais fácil de tomar e de sustentar... e realmente afirmo que de cousas que vi nesta cidade de Odiá somente, pudera ainda contar muitas mais particularidades do que contei de todo o reino, mas deixo de o fazer por não causar mais aos que isto lerem a mágoa que eu tenho de ver o muito que por nossos pecados nesta parte perdemos, e o muito que puderamos ganhar"

Morrendo o rei de Bramá, a luta política é intensa, é descrita muita luta e muita intriga, muita crueldade e muito saque, entre os reinos dePegu e de Sião, que duraram cerce de três anos e meio, das quais lhe merece grande destaque a que desenvolveu Diogo Soares, que chegado ao topo do poder no reino de Segu, chegando a ter o título de irmão de el-rei, cometeu alguns "erros"que provocaram a sua morte à pedrada, após o que o fizeram em pedaços.

Pacificado o reino, " eu, com outros 26 companheiros, nos fomos para Malaca... e me tornei a embarcar para Japão, com um Jorge Alvares"

Chegado ao reino de Bungo, de novo nos dá Fernão Mendes Pinto relato circunstanciado da vida política da região, onde " se seguiram despois tamanhos males e desaventuras, que vieram a ser quase iguais com aqueles de Sião"

Então "desconfiados de podermos aí estar seguros, e de termos quem nos comprasse nossas fazendas, nos fizémos à vela e nos passámos a outro porto dali noventa léguas, que se chamava Hiamangó"

Em Hiamangó também não conseguiam vender , com efeito havia tanta mercadoria, de tanta embarcação, que o preço a que se podia vender era mais baixo que o da compra. "Mas como Deus Nosso Senhor, com seus ocultos juízos, ordena todas as cousas suavemente por uns meios que nos embaraçam o entendimento" foram afectados por "uma tão grande tempestade" que "Deste tão copioso e tão miserável naufrágio, se não salvaram mais que dez ou doze embarcações, das quais uma foi a em que eu vinha... as quais despois venderam as suas fazendas a como quiseram" com o que "fizemos aqui tanto proveito que todos íamos ricos"

Antes de se afastarem de terra, embarcaram um homem "cujo nome era Angiró" que foi um Japonês nobre, que refugiado por homicídio, foi salvo nesta nau Portuguesa.

Chegados "a Malaca, onde achámos o padre mestre Francisco Xavier... o qual, tendo novas deste japão que trazíamos connosco... o recolheu então consigo e o levou dali para a India", para Goa.

E, entre a notícia e os relato da guerra entre Achéns e Portugueses; entre a muita informação das conversas entre padre Francisco Xavier e religiosos japoneses; chega-se ao desejo, manifestado pelo padre, de ir à China, pregar, pelo que, estando a nau portuguesa que o transportava "no porto de Sanchão, que é uma ilha vinte e seis léguas da cidade de Cantão "tratou com um mercador chim ... que se chamava Chepocheca, que quando se fosse , o quisesse levar à cidade"

1552

Assim, foi combinado "que o padre lhe desse duzentos taéis, que são trezentos cruzados da nossa moeda, e que havia de ir dali da nau até à cidade sempre com os olhos tapados, porque, se caso fosse... a justiça entendesse nele... ele não soubesse dizer nem conhecesse quem o ali trouxera"

Já embarcado Francisco Xavier na nau, o mercador Chepocheca acabou por não se arriscar a levá-lo, e "com isto se deixou o padre ficar dentro da nau... e como ele já então andava mal disposto de febres e de câmaras de sangue ( diarreias de sangue) , ajuntando-se a isto a melancolia e o desgosto que tomara, se veio a doença a assenhorear-se tanto dele, que, veio a cair na cama com fastio muito grande" e morreu.

1558

Posteriormente, Fernão Mendes Pinto, enquanto embaixador do vice-rei da India, leva uma carta ao rei do Japão. Aì viu pela primeira vez ser pescada uma baleia. Quando, na volta, entrega a carta, deu-lhe o vice-rei que " em satisfação deste trabalho e dos gastos que tinha feito de minha fazenda" ... " uma carta para sua alteza ( de Portugal) com que me fez tão chão (seguro) sobejar-me cá satisfação destes serviços... me embarquei para este reino" tendo chegado à cidade de Lisboa em 22 de Setembro de 1558, "governando então este reino a rainha Dona Catarina"




P.S. : Encontrei uma explicação da feitura de um romance de cavalaria nos tempos da epopeia marítima.
Vivia-se então, como agora, aliás, uma mudança estrutural na sociedade, uma daquelas épocas que muda a face da sociedade humana; uma daquelas épocas em que os mais velhos têem dificuldade em se rever, dificuldade em reconhecer o mundo como aquele que desde sempre se habituaram a conhecer, no qual cresceram e no qual se formaram.

Não apenas os mais velhos, é também uma questão de mudança da classe dominante...

Em Portugal temos o Velho do Restelo, algo amargo, embora não desprovido de sensatez, dado que, ao que se sabe, 50 anos após sermos os senhores do mundo, o país estava na bancarrota...

Mas voltando ao que interessa, que é o D. Quixote - uma genial imagem do confronto de duas civilizações, uma genial imagem das dificuldades de alguns em se identificar com tão profundas mudanças.

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