quinta-feira, 18 de setembro de 2014


Preciso desesperadamente de Deus.


Eu tal como todos os homens.


Na pré-história, período que ocorre desde há 3 ou 4 milhões de anos, aquando do aparecimento na Terra do género Hominideo, até há 5 mil e quinhentos anos, aquando da descoberta da escrita, os homens deram por si num mundo profundamente hostil e não só por questões climatericas. Havia animais com os quais disputava território e comida. Por vezes eram eles próprios a comida dos outros animais.


Somos um animal gregário, muito antes do homo sapiens, os vários hominideos juntaram-se em tribos, tal como por exemplo, os lobos em alcateias.

Somos também um animal inteligente - essa é a cracterística que nos distingue de todos os outros - uma inteligência que desde sempre nunca deixámos de desenvolver.



Estamos na pré-história, (ainda antes da descoberta do fogo, que só aparece há cerca de 2 milhões de anos atrás, com o homo erectus), estamos na época da pedra lascada , na época do homo habilis, cuja habilidade lhes permite trabalhar a pedra e surgem os primeiros utensílios, utensílios que lhes vão dar vantagem na hora da caça e torná-los no maior predador.


Os homens partilham o destino dos restantes animais, mas sente-se no entanto bem superior a eles: é inteligente


Uma das características da inteligência é a consciência e o homem tem consciencia de que o mundo lhe é hostil, tem consciencia do seu próprio sofrimento.


A vida é dura, teem de evitar ser comidos e teem de matar para comer. E as diferentes comunidades humanas, espalhadas pelo mundo, inventam códigos de comunicação entre si: a linguagem

E, tal como uma criança de 3 anos, assim que dominam a linguagem se pergunta "porquê?", o homem perguntou-se sobre os porquês do mundo e do homem ele próprio, os porquês do sofrimento, da doença e da morte.


Surgiram as primeiras explicações, que foram sendo desenvolvidas nas tradições orais, pelos diferentes grupos, ao longo dos milénios que compõem a pre´-história. Foram-se aperfeiçoando ao longo de gerações, enriquecendo-se de valor simbólico, tal como, por exemplo, os contos de fadas.


Essas historias falam dos mais ancestrais problemas humanos, aqueles que continuamos a ter porque nos falam do que continuam a ser os nossos reais problemas existenciais.


Para a explicação do mundo e do aparecimento do homem, todas as histórias nos falam de um deus criador.Às vezes só um, às vezes um par, ou de um grupo de deuses.


Criaram o Mundo e nele instituíram a sua ordem. Trata-se sempre de um mundo criado para o homem para a sua própria tribo, para a sua própria comunidade, que ocupa sempre o centro do mundo.


Não há um povo, dos Maias aos Egípcios, dos Hindus aos Sumérios, dos Judeus aos chineses; não há uma tribo, desde os índios na América do Norte, às da Amazónia, da Escandinavia ao Japão, da Indonésia ao mais recondito do planeta, de que não nos tenham chegado documentos (que foram passados a escrito aquando da descoberta da escrita) que são o resultado de historias contadas ao longo de milénios, de geração em geração.


É compreensível, Somos inteligentes e procuramos entender os porquês das coisas.


Mas é claro que, apesar de já terem inventado a linguagem e descoberto o fogo, as histórias explicativas dos mistérios da origem do mundo e do homem, só podem ser o reflexo do pouco que conheciam.


E o que mais conheciem era o poder implacável da Natureza.


O homem, que ainda não sabia escrever, precisou de inventar seres protectores que o ajudassem a suportar a dureza da vida.


Todos os deuses criadores são sempre reflexo da Natureza ela própria: são implacáveis e cruéis, e também reflexo do próprio homem: os deuses lutam pelo poder, castigam os que se opõe ao seu poder, que desejam absoluto, tal como nas diversas tribos ou organizações sociais de então os homens fariam, exigem sacrifícios ou oferendas, tal como se faz a um homem a quem se quer agradar.


Quanto ao deus criador não tenho qualquer problema.


É certo que não me importava que houvesse um ser omnipotente que me protegesse de todos os fenómenos naturais que me podem provocar sofrimento, mas, se ele fosse omnipotente, o que deveria fazer era um mundo sem tais dramáticos acontecimentos, porque, a acontecer um desses fenómenos, mesmo que protegesse uns, sempre haveria vítimas em quaisquer outros.



É claro, para o homem pré-histórico, a sua tribo, o seu povo, é sempre o povo escolhido...


200 000 mil anos após o aparecimento do homo sapiens, sabemos como tudo foi e continua a ser criado. A ciencia dá-me todas as respostas a todos os meus porquês.


Os cientistas continuam a percorrer o mesmo caminho começado a percorrer há 200 000 anos, com o homo sapiens, de tentar compreender o funcionamento da Natureza.


Mas, para além de todos os mitos cosmológicos, que são os que explicam o aparecimento do mundo e a sua organização, há mais questões que precisavam de respostas.


Há mais porquês para os homens da pré-história: o sofrimento , a doença, a morte .

Não há um povo ou tribo que não tenha deixado explicação para esses insólitos factos da vida.


Todos se questionam sobre o seu porquê e todos os explicaram como um castigo infligido pelos deuses perante a má conduta humana.


De facto, dizem eles, nem sempre assim foi. Os deuses afinal criaram um mundo perfeito, no início dos tempos houve um paraíso, agora perdido.


Nesse paraíso os homens viviam como eles achavam ( e nós continuamos a achar) que o homem merecia e precisava de viver. Perdemos esse paraíso por castigo dos deuses.


No fim da era glaciar, há cerca de 10 000 anos, ainda antes do homo sapiens, habitava a Terra o homem do Neanderthal , quando os gelos polares derreteram a terra inundou, o nível das águas do mar aumentou e houve muita terra inundada. Em todos os relatos do Dilúvio, dos povos da America do Sul aos povos do Mediterraneo, da China à Austrália, por todo o lado onde havia homens , o Diluvio Universal foi um castigo divino .


É que, de facto, o homem pré-histórico afirmou-se como o maior predador. Por vezes face à sua própria espécie - a guerra é tão antiga quanto o homem.

As tribos lutavam entre si por território de caça, por mulheres, e , depois da descoberta da agricultura

( por volta de há 6 000 anos , altura em que novos deuses passaram a ser adorados _ deuses agricolas : o sol, a lua, os rios, a chuva, e as sociedades sedentarizaram-se surgindo as cidades)

depois da descoberta da agricultura, a guerra passou a ser pelos terrenos mais ferteis, pela conquista das mais ricas cidades, e da cobiça constante de mais poder, surgiram os primeiros impérios.


No Neolitico, o homem ainda não sabia escrever, mas os primeiros impérios já existiam, fruto de muita guerra.


Surgem então os deuses da guerra, os senhores dos exercitos, que levavam os seus protegidos à vitória.

Os homens cometiam pois os "erros" que lhe advinham da sua própria natureza, que é a de predador, o mais perigoso de entre todos os outros predadores, porque inteligente .


Esse foi o "erro" que alguns admitiram que fosse a causa do castigo divino.

O Homo sapiens é o mais agressivo de todos os hominideos. Foi essa a chave do seu sucesso, e, quem sabe, a razão pela qual apenas ele sobreviveu. Estará neste facto a raiz da lenda de Abel e do Caim?

A lenda reflecte um período em que já existe agricultura, um periodo em que uma nova civilização ( homo sapiens) elimina a outra (homo de Neanderthal) . Mas isso é só uma suposição minha...

Outros pensaram que o erro cometido tinha a ver com a outra essência do homem: a sua inteligência!

Traduzida na curiosidade face ao mundo que o rodeia. Pensaram que essa curiosidade que levou ao domínio de alguns "mistérios" teria sido entendida pelos deuses todo poderosos como um desafio... Estavam a ameaçar os senhores únicos do conhecimento. ..


De um ou de outro modo, ou de ambos em simultâneo, todos encontraram a explicação do castigo divino na própria essência do homem : . agressivos e inteligentes


E os Deuses castigaram os homens por serem homens!


Os mitos de paraíso perdido são comuns a muitas culturas diferentes, e ainda hoje estão presente nas principais religiões.

É um mito muito poderoso. Se por um lado explica a sofrimento e morte, ( o castigo) , por outro lado é o relato mítico do aparecimento da consciência humana.


Não há ser vivo que não sofra e que não morra, mas só uma mente inteligente pode disso ter consciência.

Tem para mim ainda outra leitura: é igualmente o relato mítico da infância ela própria. Na infância , tomada como símbolo, tudo é perfeito, temos tudo e nada precisamos de fazer para o ter, somos protegidos por seres todo poderosos...

Esse estado só acaba definitivamente na puberdade, quando o desejo sexual nos obriga a fazer o nosso caminho. É a expulsão do Paraíso, o fim da infância protegida.


Sofrimento e morte são leis naturais, comuns a todos os seres vivos, São leis naturais inseridas no mais profundo ADN da Natureza , que é implacável e absolutamente indiferente ao sofrimento que causa em seres inteligentes.


A Natureza não foi feita para os homens. Aparecemos cá, na imagem de Carl Sagan que reduziu toda a existência do Universo à escala d um ano civil, no último segundo do dia 31 de Dezembro.


Sujeitos às leis da Natureza, os homens sofrem e têem disso consciência. Mas as leis naturais ocorrem simplesmente, assim como, por exemplo, os fenómenos atmosféricos.


A teoria do Caos é uma das leis mais importantes do Universo. A sua ideia central diz que, apesar de tudo ser regido por leis matemáticamente demonstradas, a complexidade do Universo, que é uma realidade dinâmica, está constantemente sujeita a algum imprevisto e, por muito pequeno que ele seja, pode desencadear fenómenos que podem alterar por completo o padrão inicial.


Os imprevistos são imprevisiveis, mas incorporam o padrão inicial, fazendo com que o desfecho, se bem que imprevisível de início, se desenvolva segundo as mesmas leis naturais, dando origem a uma outra realidade.


Por exemplo, um jogo de football. É imprevisível no seu início, mas, o decorrer das acções de cada equipa , por muito imprevisíveis que sejam, resultam num resultado compreensível à luz de tudo o que ocorreu.


Em 1960, Edward Lorenz, um meteorologista, descobriu que um fenómeno aparentemente simples, e até marginal, podem provocar alterações gigantescas. A sua famosa expressão " o bater das asas de uma borboleta na Austrália pode causar, algum tempo depois, um furacão nos Estados Unidos".


O "efeito borboleta" foi estudado pelo matemático Mandelbrot , que em 1970 demonstrou que todo o Universo se foi moldando e criando segundo este modelo.


O número infinito de elementos que compõem o Universo segue o seu rumo, determinado pelas leis naturais, mas entra sempre, num ou noutro momento, em colisão com outro elemento, que segue ele próprio o seu rumo, sendo o resultado altamente diferente do que se esperaria que fosse, analisando cada um dos elementos de per si. Apesar da matemática que os fundamenta, nada, mas mesmo nada neste Universo, é previsível.


O sofrimento humano, quer ele seja causado por outros homens na sua infinita luta pelo poder, quer ele seja causado por problemas genéticos, ou doenças adquiridas, ou seja saúde física, quer seja causado por dificuldades pessoais de integração e de sucesso na sociedade onde nos inserimos, ou seja saúde mental, é natural e não preciso de deus para responder aos meus porquês.


Mas, se o sofrimento foi entendido pelos nossos antepassados como castigo para o seu mau comportamento, a morte parece inexplicável...


O homem do Neanderthal, que teria aparecido há cerca de 1 milhão de anos, e chegou a ser contemporâneo do homo sapiens, foi o 1º a sepultar os seus mortos e os homens não mais o deixaram de fazer, embora segundo rituais diferentes.


Diferentes também foram os mitos que todos os povos criaram à volta da morte, no entanto, todos teem um denominador comum: todos eles nos falam de uma vida após a morte, todos nos falam de uma morte como continuação da vida.


Perante mistério tão grande para quem pensa, sente e sofre, para quem se vê como superior aos outros animais, que, claro, também eles morrem, mas... o homem é diferente, é isso que sente o homem do Neanderthal, e será isso que isso que irá sentir o homo sapiens, o homem logicamente mereceria um destino diferente.


É a mais brutal realidade da vida e, na nossa eterna procura de responder a "porquês" , a morte para o homem da pré-história não fez qualquer sentido.


A não ser ... que não houvesse uma cisão abrupta entre a vida e morte.


A não ser... que no pós morte tivéssemos a recompensa pelo que aqui sofremos.

Outros há que acreditam que vivemos inúmeras vezes em corpos diferentes. Esta ideia é a minha preferida; se tivesse sido eu a criar o mundo e os homens era assim que o faria.


Quem não gostaria que a vida fosse uma aprendizagem e que, ao chegar ao seu fim físico, a nossa alma, seja lá isso o que for, poderia incarnar noutro corpo e desta vez fazer melhor.

Era fantástico! Só era mesmo preciso, para isso fazer sentido, é que nos lembrássemos das lições aprendidas...

Para uns, os mortos ficavam a observar os vivos, não tinham influência nas suas vidas, mas entretinham-se a vê-los. Para outros, os mortos interferiam na vida dos vivos, podendo ser negativa ou positivamente.

Mas, para todos sem excepção, de um ou de outro modo, os antepassados são objecto de culto, o que continua, até aos dias de hoje.


O culto dos antepassados hoje, na nossa cultura ocidental, são os santos, ou os nossos familiares que alguns acreditam que nos vêem e protegem.


Isso sem dúvida aproxima o homem da morte com menos terror.


É claro que uma estrela não sofre ao ser comida por outra, ou ao morrer porque esgotou o seu nucleo combustor, mas diferente das estrelas, das plantas e dos animais ( entre os quais o homem, que só difere por ser inteligente) , o homem morre e sofre com isso, pois a sua grande vida fica num segundo destituída de sentido.


Todas estes mitos nos falam ao nosso mais profundo, tal como um conto de fadas ou uma ópera, por exemplo. Ouvimo-los e vemo-los vezes sem conta, e sempre , por muito que a nossa realidade seja distinta, o essencial sempre fala ao nosso inconsciente, às nossas mais profundas angustias existenciais.


Por muito brutal que seja a realidade da minha morte, não é também para lhe dar sentido que necessito de deus.


O sentido da morte é, para mim, o sentido da vida. Fenómenos naturais que acontecem porque e não para que, tal como na Natureza, onde tudo acontece por uma razão determinada e não com finalidade alguma.


Com o aparecimento dos primeiros impe´rios, no Neolítico, na organização social surgiu uma nova realidade: os vencidos das cidades ou imperios mais pequenos conquistados, ou seja, surgiram os escravos.


O sofrimento atingiu outro patamar, para além do implacável da Natureza física, os homens passam a defrontar-se com a implacável natureza humana e a Justiça passou a ser uma aspiração das vítimas.

E é deste deus que eu preciso. Aquele que não foi inventado pelos homens pré-históricos , entre os quais o deus bíblico, e Alá, pois esses deuses não tinham no seu ADN a bondade e a compaixão.


Não preciso dos deuses que o homem da pré-história inventou, castigadores e guerreiros, sem pingo de compaixão ,e algo sádicos e sedentos de poder absoluto, mas de um deus bondoso, que ali estivesse para me ouvir e ajudar, um deus justo, que, embora não tivesse criado o mundo, pois que o mundo não é de todo justo, basta olhar em volta para perceber que ninguém de bom coração poderia ter criado deliberadamente uma ordem natural tão injusta e causadora de tanto sofrimento. Ora ,se ninguém de bom coração o criaria assim ,porque haveria um ser omnipotente de assim o criar, se fosse bom ?

Pronto, um deus que não criou o mundo , mas que nos ajudasse a percorrer os caminhos injustos da vida, que nos conhecesse tão bem, que nos compreendesse realmente.


Ora bolas, mas isso é o que dizem que deus é...


Dizem, porque precisam, tal como eu, que exista um pai bom e justo, que me ame e esteja disponível para me guiar na vida, para me mostrar as vias possíveis e as consequências de cada uma, que me proteja dos outros homens, mais fortes e mais aptos que eu, capazes de me engolir na sua luta por mais poder.


Têm sorte os crentes , porque não há um único texto sagrado de qualquer religião que diga que deus é bom e justo. No máximo é bom para os escolhidos, e mesmo assim quase nunca. Só que vestiram esse deus já existente daquilo que precisam, aquilo que também eu preciso.

domingo, 11 de abril de 2010

Filipa de Lencastre

Filipa de Lencastre era Inglesa: neta e depois sobrinha do rei de Inglaterra

Conhecia a Corte.
Conviveu com guerras dentro e fora das fronteiras do seu país e com as intrigas palacianas das quais nunca estava ausente o adultério.
Nunca se identificou lá muito com os valores da Corte inglesa, tal como, aliás, John Wiclif que traduziu a Biblia para inglês com o intuito da aproximar as verdades reveladas de uma Corte e de um Clero que viviam de modo bem diverso.

Conheceu a revolta das camponeses, quando seu pai era regente, enquanto tio do futuro rei, ainda menor.
Para financiar a sua guerra com a França, decretara um imposto igual para todos e não conforme as posses de cada um, como até aí fora. Foi a gota final que fez transbordar a revolta e Filipa viu o seu Castelo de Windsor incendiado, os seus familiares perseguidos...


Esta revolta de camponeses foi importantíssima para a confirmação do poder do Parlamento: não mais o rei poderia prescindir da sua convocação quando pensasse em lançar novos impostos ou quando estivessem em jogo outras decisões importantes para o Reino.


Mas John Gaunt, assim se chamava o seu pai, tinha uma ambição de poder que nada detinha. E tentou outro trono. Casou com a filha do rei castelhano, cujo trono fora "usurpado", e assumiu-se como pretendente ao cargo de Rei de Castela.
E foi assim que invadiu a conquistou a Galiza.


Um pouco mais a Sul havia também um problema de sucessão.

Em Portugal tinha morrido D. Fernando, deixando apenas uma filha , D Beatriz, casada com o ocupante do trono de Castela.

Uma parte da nobreza, sobretudo a da região Norte, apoiava a regência da viúva de D Fernando - D. Leonor Teles - até ao momento em que o filho de D Beatriz atingisse a maioridade.

Mas, havia uma classe nascente - a burguesia - com interesses distintos.

Os burgueses de Lisboa, com o apoio de outra facção da nobreza menos vocacionada para alianças com Castela, defendiam a subida ao trono de um irmão de D. Fernando, melhor, meio-irmão, porque se tratava de um filho ilegítimo de D. Pedro.

Revoltou-se o povo e a revolução foi tão organizada ( financiada pela burguesia ) que D Leonor se assustou um bocado e pediu ajuda a Castela.
Não se fizeram rogados, os Castelhanos, e Lisboa viu-se cercada por terra e por rio. Foi um cerco e tanto, dele nos fica a Crónica do Cerco de Lisboa, de Fernão Lopes


Ora bem, os Castelhanos cercavam Lisboa, os Ingleses estavam na Galiza, o seu inimigo era comum e havia um Contrato, uma Aliança assinada há 10 anoa atrás, em 1373, entre Eduardo III (avô de Filipa) e D. Fernando.
Uma aliança que unia em cooperação 2 nações marítimas: Inglaterra e Portugal

Tal como 2 e 2 são 4. os burgueses de Lisboa , com alguma nobreza do Sul, ou seja, os apoiantes de D. João, pediram ajuda a quem, tal como eles, combatia os Castelhanos.

Com a ajuda dos Ingleses, com o génio militar de D. Nuno Alvares Pereira, com D. João, Mestre de Avis, no comando, o cerco à cidade foi rompido com sucesso e a Peste Negra no campo das Castelhanos deu o sinal definitivo de levantamento do cerco.

Os Castelhanos voltaram pouco depois, não lhes apetecia perder aquilo com que já sonhavam, e os exércitos encontraram-se em Aljubarrota.
Estavámos em 1385 e, com a ajuda dos ingleses e claro com o génio militar de D Nuno Alvares Pereira, a vitória dos Portugueses foi de tal ordem que D João acabaria por decidir levantar, ali mesmo, no Campo da Batalha, um Mosteiro dedicado a Santa Maria da Vitoria..

Para assinalar tal união de esforços, a filha de John Gaunt casou com D. João I , rei de Portugal.

E assim termina a crise de 1383-1385 e começa a Dinastia de Aviz., e Filipa torna-se Rainha de Portugal.

Era pouco dada à "vida de Corte", muito devota, Católica, Romana - em à parte referira-se que se estava em pleno Cisma do Ocidente,altura em que havia um Papa em Roma e outro em Avinhão - que o Papa de Avinhão era apoiado por Castela..., mas pronto, Filipa era muito devota, Católica Romana, e quis fazer da corte de Portugal um local onde as damas se ocupasem com trabalho produtivo. Ela própria dedicou-se à transformação de castelos, tornando-os mais confortáveis, e, quando teve filhos, educou todos, e não só o herdeiro à coroa, munindo-os dos melhores tutores que lhes deram todo o conhecimento disponível, criando na Corte, uma espécie de Academia.


Para além da sua assinatura no maior conforto dos aposentos, nas chaminés góticas do Paço da Rainha, em Sintra, assim chamado dada a sua preferência por aquele Paço, teve um relevante papel no desenvolvimento do comércio de Portugal com a Inglaterra.

Morreu, num Convento da região de Lisboa, com Peste, tal como sucedera a sua mãe.

Morreu em vésperas da partida de uma enorme armada que, levando o seu marido e os seus 3 filhos mais velhos, rumou ao Norte de Africa.

Não chegou a saber que Ceuta era possessão Portuguesa, mas antes de morrer armou cavaleiros os seus filhos que participavam da armada, dando a cada um uma espada, para que:
D Duarte protegesse os povos; D. Pedro, as damas, D Henrique , os nobres

Não chegou a saber que durante o reinado do seu filho mais velho D Duarte, Gil Eanes passou o Cabo Bojador

Não chegou a saber que D Pedro viajou pelo mundo, levando um recado do seu irmão D Henrique _ arranjar cartas de marear e narrativas de viagens de mercadores genoveses e venezianos e obter informações sobre o Prete João das Indias _ e que, na volta D Pedro lhe entregara o Livro de Marco Polo e um mapa mundi com o traçado das vias comerciais entre o Oriente e a Cristandade.

Não chegou a saber que D Duarte, apesar de ter sido um rei fraco, não esqueceu nem quem ajudara o seu pai a obter o trono, nem as palavras da sua mãe ao fazê-lo cavaleiro, e instaurou Cortes regulares com a presença dos 3 Estados: Nobreza, Clero e Burguesia.

Não chegou a saber que aos seus filhos, Camões chamou de "Inclita Geração", mas creio que foi uma Rainha Feliz

Os seus outros filhos, foram
D Isabel, que viria a casar com Filipe ,o Bom.
D Fernando, que viria a morrer em cativeiro, por não ter sido acordada a sua libertação em troca da devolução da cidade de Ceuta
D João

Como curiosidade, o filho ilegítimo de D. João I. D Afonso, foi o 1º Duque de Bragança, como o determinou seu pai ainda em vida

domingo, 4 de abril de 2010

Domingo de Páscoa

O fruto da época são as amendoas.
Mas decidimos apresentá-las com cores mimosas

Os doces são o Folar da Páscoa, cuja individualidade lhe vem de ter no seu seio um ovo
Há mais ovos: os de chocolate

E há os Ninhos da Páscoa
O símbolo é um coelhinho

A data? o 1º Domingo depois da 1ª Lua Cheia ocorrida após o Equinócio da Primavera

E tudo isto me surpreende... Ao fim de quase 21 séculos de Ressureições e Flagelações, nada apaga da memória colectiva dos povos que no Equinócio da Primavera se celebrava a Fertilidade

domingo, 13 de dezembro de 2009

Energia negra

Em 1998, Hubble, ao observar supernovas , que são explosões de estrelas, registou o efeito da aceleração da luz.

Mas não foi o único, um outro grupo de astrónomos, em trabalho de análise da luz de supernovas em galáxias distantes, verificou o mesmo.

Ou seja, dois grupos de trabalho distintos constataram o fenómeno de que o Universo se está a expandir de modo acelerado.

É claro que já se sabia, desde 1929, que o Universo se estava a expandir... mas agora detectava-se que essa expansão se verificava em constante aceleração, contrariamente ao que se supunha.

Como o concluíram? É mais ou menos assim: o desvio para o vermelho indica o grau de alongamento das ondas luminosas, causado pela expansão cósmica,

O que é o desvio para o vermelho?

Em termos muito simples o desvio para o vermelho corresponde a uma alteração na forma como a freqüência das ondas de luz é observada no espectroscópio em função da velocidade relativa entre a fonte emissora e o receptor observador.

Devido à invariância da velocidade da luz no vácuo e admitindo um emissor e um receptor em repouso relativo, um raio de luz é captado como uma cor padrão em função de sua frequência.

Na descrição ondulatória, o período (inverso da frequência da luz) é definido pelo intervalo de tempo medido entre duas cristas consecutivas da onda.

Quando o emissor e o observador estão em repouso relativo, ambos medem a mesma frequência.

Se o emissor (fonte de luz) se move na direcção do receptor, o intervalo de tempo que o receptor mede entre duas cristas consecutivas será inferior ao medido pelo emissor, logo o receptor observa um desvio para a gama de cores de mais elevada freqüência (desvio para o azul no espectro).

Se o emissor (fonte) se afasta do receptor observador, o intervalo de tempo que este mede entre duas cristas consecutivas aumenta, observando um desvio para a gama de cores de mais baixa freqüência (desvio para o vermelho no espectro).

O mesmo fenômeno ocorre quando o receptor se move em direção ou em fuga da fonte, pois o que importa é a velocidade relativa entre a fonte e o receptor.

um baixo desvio para o vermelho indica que no passado a luz dessas distantes supernovas viagava num Universo que se expandia menos rapidamente do que o Universo actual


A energia que motiva esse fenómeno, ainda não se sabe bem o que é, mas foi-lhe dado o nome de Energia negra.


O que dela se sabe é que representa 2/3 da densidade do Universo, sendo que o restante 1/3 é a densidade da matéria ( aí incluída a negra e a bariónica)

A matéria negra, que corresponde à grande maioria de toda a matéria do Universo, só interage gravitacionalmente, quer dizer, só se detecta a partir dos efeitos gravitacionais sobre a matéria visível

A bariónica, a matéria visível, que é tudo o que conhecemos, corresponde a 4%
Bom, resumindo : 7O% do Universo é Energia negra, que 26 % do Universo é Matéria negra, que 4% é matéria visível.


Perante tais números é claro que fiquei curiosa, perante o que é uma das descobertas mais revolucionárias da cosmologia, no sec XX: a Energia negra


A Energia negra, assim chamada porque não é visível, nem sequer é atraída pela gravidade, como sucede à Matéria negra, igualmente invisível.

Está por todo o lado, e, quer na minha cozinha, na sala onde agora estou, no sistema solar, ou no espaço intergaláctico, apresenta uma densidade constante : entre 10 a 26 Kg/m3

Como já ficou dito, deu-se conta dela ao estudar grandes distâncias. E é de facto apenas nas grandes distâncias que os seus efeitos se podem notar, mas é, actualmente, a mais poderosa força do Universo

Alguns chamam-na de quintessência, identificam-na como um campo quântico dinâmico e é seguramente a responsável pela aceleração cósmica

Mas nem sempre foi tão poderosa.

Houve tempo em que a tensão entre a gravidade e a força da energia invisível era mais equilibrada.

Mas, à medida que o Universo se foi expandindo, graças a essa energia, a força da gravidade passou a não ter a força suficiente para atrair a matéria, juntando-a em aglomerados, passando a força da energia negra a ser a mais forte, o que motiva o afastamento das galáxias entre si, ou seja, a aceleração da expansão do Universo.


Enfim, o Universo sujeito à atracção gravitacional da matéria, que era o Universo de Newton, passou a ser contestável...

Já na teoria da relatividade de Einstein não se excluía a existência de um elemento antigravitacional - ele tinha introduzido nas suas equações uma forma exótica de gravidade negativa, a chamada constante cosmológica, à qual também chamou " o maior erro da minha vida".

A descoberta de Hubble, torna necessária uma explicação para a existência dessa forma exótica de gravidade negativa,

Vou ficar atenta!

Em relação à matéria negra, sabe-se um pouquito mais, pelo menos que os quasars, que se pensava serem galáxias em formação, representam a energia visível libertada pela intensa actividade de um buraco negro

É que as novas observaçõs do nosso vizinho quasar HE0450-2950, que dista de nós 5 mil milhões de anos-luz, produz uma tal energia, que na galáxia surgem 350 sóis por ano, ou seja, está a fabricar a galáxia...

Uma excelente notícia a fechar o Ano da Astronomia...

Vou tentar manter-me a par das novidades!

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

contos de fadas


O Homem, criador de histórias

Cria histórias para que faça sentido, na sua mente racional, o que vê à sua volta .
Criou, e continua criando, histórias que explicam o mundo e os homens.
Criou-as antes de inventar a escrita, e, graças a isso, as histórias criadas tornaram-se imortais.


Se tivessem sido escritas, seriam sempre tal qual como um indivíduo as criara, teriam a sua visão do mundo e dos homens.Mas não foram escritas, foram contadas, de geração em geração, durante milénios...

Cada contador, pôs na história um pouco de si próprio, enriquecendo-a com o seu conhecimento. E ao longo dos tempos, cada um as foi limpando do supérfluo e do individual, e foi -se condensando em símbolos aquilo que a razão, por muito que tentasse explicar, não o conseguiria fazer de forma tão abrangente, de forma a ser compreensível por todos na tribo, e para além dela.


É claro que, quando foi inventada a escrita, as histórias que os homens sabiam eram um tal repositório de conhecimento do mundo e dos homens, eram de um tal universalismo que, evidentemente, alguém percebeu que tinham de ser escritas .

Assim nasce a Bíblia, a Ilíada, a Odisseia


Mas, não havia só obras "monumentais"; a tradição oral alimentou-se de muitas pequenas histórias, explicativas do mundo e do homem e das suas relações com os outros homens , as quais pela sua dimensão universal, foram passadas a escrito

Conhecemos, do Egipto à Grécia, uma tradição escrita que remonta a 3 000 anos, cujos temas de base não se alteram.


A umas demos o nome de lendas:

As que têem na sua origem um facto
histórico
Por exemplo, há 270 narrativas do Dilúvio, desde o Mediterraneo às
Civilizações Maya e Inca
Desse facto real, chega até nós, por exemplo,a Atl â ntida e a Arca de
Noé, cujo simbolismo nos fala, ainda hoje, com tal força e beleza

A umas demos o nome de mitos:


Os que são explicações quer dos fenómenos naturais, quer da origem
do mundo e do homem
Por exemplo, é necessário encontrar uma explicação coerente para a
morte.
É um acontecimento tão carecido de lógica que para a quase
totalidade dos povos, a morte não existiu desde sempre; houve
tempo em que todos éramos imortais,
A explicação encontrada por quase todos gira à volta de um
erro ou de uma desobediência humana, que motivou o castigo
divino de perca dessa mortalidade
ainda hoje, conhecida já a lógica do fenómeno, o
poderoso simbolismo do Jardim do Éden ou da Idade do
Ouro, não deixa ninguém insensível



A umas demos o nome de contos de fada:

As que relatam a vivência de um indivíduo, as suas motivações, as
suas angústias ;

Uma história que, transmitida de geração em geração, limada e
enriquecida pela sabedoria dos tempos, se transformou, de uma
vivência individual, num espelho da Natureza humana.


Nem sempre se chamaram Contos de Fadas.
Eram contos tradicionais, que se contariam à lareira, ou nos Salões;
eram contos para adultos,
Quando foram passados a escrito, para cada um havia mais de uma
versão

Por exemplo,

Havia uma versão de "A gata borralheira", na qual as irmãs
cortam os pés para conseguirem calçar o sapato e, descoberta a
fraude, são repudiadas e viverão como pedintes;

Em "Hansel e Gretel" eles matam a dona da casinha de chocolate

Na "Bela Adormecida" e na " Branca Neve" a princesa é vítima de
violação, quer, no 1º conto, por parte do pai, quer , no 2º, por parte do
Principe

Em "O Capuchinho Vermelho" não existia nenhum lenhador.
Ela é simplesmente comida pelo lobo.

Estas eram algumas das versões existentes no Sec XVII, na França de Luís XIV, onde viveu Charles Perrault, que se dedicou à compilação dos contos populares do reino, altura em que escolheu uma versão, e a passou à escrita.

100 anos mais tarde, Sec XVIII, portanto, os irmãos Grimm dedicaram-se à compilação de antigas narrativas populares do povo alemão.

Depararam-se com um facto curioso - para além de alguns novos contos, a sua compilação não diferia em muito da compilação de Perrault;
muitos dos contos eram, pois, populares em todo o Centro da Europa

E... tendo em conta o seu posterior acolhimento, populares em todo o mundo...

Os contos têem algo a dizer a todos nós; a sua linguagem, filtrada através de milénios, tem tal riqueza de simbolismo que nos fala a todos e de muitas formas diferentes

Foi no Sec XIX que apareceram os primeiros Contos escritos para crianças.
O seu autor, o sueco Andersen, criou, de raiz, histórias para crianças.

Não são contos tradicionais, mas foram escritos obedecendo às mesmas caracteríticas, à mesma estrutura, dos contos criados colectivamente



Os Contos de Fadas



Cada conto, relatando uma especifica vivência individual, tem no seu "centro de história" uma predisposição ou falha exarcebadas, uma caracteristica quase doentia de personalidade : pode ser a vaidade, a gula,a inveja, a luxúria, a hipocrisia, a avareza, a preguiça, etc.


Crianças, e também adultos, sempre encontram uma personagem na qual se podem projectar, e, docemente, poderão incorporar, aceitar, os seus próprios conflitos internos.

E as personagens não são como na realidade todos somos: bons e maus em simultâneo, são personagens de conteúdo em absoluto estilizado, o que faz delas personagens de fácil identificação, até para uma criança, são personagens típicas e universais, mas nunca ambivalentes

Para além da realidade interior, para além de "como viver com os outros", crianças, e também adultos, sofrem de outro tipo de ansiedades, ditas "existenciais", porque absolutamente indissociáveis da existência humana: a necessidade de sermos amados, o medo do desamparo, da solidão, da morte...

São temas dos contos de fadas!

Eles falam de monstros, que bem podem ser os que temos dentro de nós, falam de quais os comportamentos aceites ou penalizados pela comunidade, mas sobretudo afirmam vivamente que a solução feliz para o que quer que seja, é a construção de uma ligação afectiva verdadeiramente satisfatória com alguém.

Quer dizer, os contos de fadas são representações simbólicas dos problemas que afectaram e afectam os homens, representações simbólicas das dores da natureza humana , mas a sua especificidade é o optimismo: por mais aterrador que seja o conto, o seu final será sempre feliz, isso é garantido.


Por essa garantia de final feliz, por essa tranquilidade adquirida desde logo, os problemas sugeridos no conto ajudam as crianças a resolver, a ir resolvendo ( há sempre contos que pedem para ouvir uma e outra vez, há sempre passagens em que não permitem "inovações") os seus próprios problemas interiores.

É que, nos contos de fadas, para além do problema, há também a solução, uma profunda revelação sobre a vida a e natureza humana, mas ela é tão subtilmente sugerida, que nos deixa livres de a entender como adaptada ou não a cada um, como adaptada ou não ao momento da nossa vida em que os lemos.


É certo que não reflectem o mundo actual; todos eles acontecem "in illo tempore", num qualquer tempo difuso e fora da nossa realidade quotidiana.Mas, ao ouvirmos a simples expressão do "Era uma vez" , todos somos levados para uma realidade onde não importa o que nos rodeia, todos sentimos, percebamos ou não, que o assunto a tratar é o que se passa no interior de cada um.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Uma viagem à Russia : S Petersburgo

Fruto de ter sido capital do Império durante 2 Séculos, S Petersburgo tem ligações ferroviárias com toda a Russia
Disso apercebi-me ao sair do comboio
Mas, ao sair da Estação, senti que entrava noutro mundo, bem diverso daquele que deixara atrás. A textura do ar, a sua luminosidade, e nas ruas, a cor das fachadas e o som de um acordeão.



A 1ª vez que a Rússia se aliou à Europa foi em 1686, quando se pôs ao lado da Áustria e de Veneza contra a Liga Otomana
Mas, foi Pedro I, o Grande, que, fascinado pela cultura europeia, que conhecera nas suas muitas viagens, que transformou a Rússia: a Russia Imperial das Estepes tornar-se-ia Europeia

Para tanto não se limitou a determinar o Francês como a lingua imperial e da aristocracia,

Atacou o Imperio Sueco, na que foi chamada a Guerra do Norte, para conquistar o territorio necessário ao acesso ao Baltico

Ao fim de 21 anos de guerra, Pedro era senhor de um império com acesso ao mar. Um mar que o ligava à Europa

Para celebrar a vitória, para cimentar a conquista, fundou uma cidade, uma cidade que passaria a ser a capital do imperio: S Petersburgo

Idealizou a cidade para celebrar a mudança de natureza do império.
Construíu-a em pedra, para o que convidou arquitectos Italianos, Austríacos e Alemães

As ruas seriam largas ( A Avª Nevsky tem quase 5 Km , a Avª Moscovo tem 10 Km e 7 estações de Metro), convergendo para o Neva, e afirmou que os nobres que aspirassem a um lugar na corte, deveriam construir em S Petersburgo os seus palácios.

Foram construídas Escolas, Universidades, Bibliotecas Públicas, Museus, Academias, Teatros...


A Catedral de S. Pedro e S Paulo, cujo desenho faz lembrar um navio, fica no "complexo" da Fortaleza com o mesmo nome.
A Fortaleza era a "chave" que abria as portas do Báltico e a "chave" que defendia o Império. Por isso se chama a cidade de S Pedro.

O interior da Catedral é um Salão de Gala, pela iluminação, pela decoração.
Até a iconóstase é diferente, quase a fazer lembrar um Arco do Triunfo

É nesta Catedral que se encontram as sepulturas de todos os Czares dos Secs XVIII e XIX.
Para os Romanov assassinados no decurso da Revolução Bolchevique, há uma capela especial, onde se encontram as sepulturas, ou, na falta delas, lápides nas paredes com os nomes de todos eles, incluindo os seus servidores...
Ao bater das horas, no relógio da Catedral, em vez de badaladas, ouve-se o Hino Nacional.



Também do tempo de Pedro, o Grande, é a Catedral de Sto Isaac.
Foi construída apenas para o culto da família imperial. Lenine abriu-a ao culto para toda a população. Foi bombardeada na 2ª Guerra Mundial.
É de facto extraordinário. Reconstituiram tudo conforme ao figurino... Uma Catedral do Sec. XVIII...
Foram precisos 24 anos para a construir; levaram 27 anos a reconstituí-la.

Foi nessa Catedral que Pedro I, o Grande casou comn Catarina.
Eu conto
Pedro tinha-a como amante de 1707. À data em que casaram, depois de, para isso, ter metido a sua ex-mulher num convento, tinha dela 7 filhos.
Quando morreu, e segundo a sua vontade expressa, deixou-a como sua sucessora.
Catarina torna-se Imperatriz, com o nome de Catarina I

Da Vila do Czar, a residência de verão da família imperial, faz parte o lindíssimo Palácio de Catarina, que acabou por ser também utilizado e aumentado por Catarina II, a Grande

Do Palácio faz parte, entre uma infinidade de salas bonitas, um Salão, no qual Pedro I afirma a sua vontade de rivalizar com Versailles, e existe também o Salão de Ambar.

Pedro, o Grande, visitando o rei da Prússia, ficou deslumbrado com a decoração do seu escritório, decorado com painéis de âmbar.
Mais tarde, o rei da Prússia oferecê-los-ia ao Imperador Russo.
Com eles, revestiu a Sala do chão ao tecto e acrescentou ainda uns mosaicos de âmbar para completar.
Absolutamente magnífica.

Durante a 2ª Guerra bem que taparam o chão com sacos de areia e as paredes com panos, mas a Sala foi saqueda.
Foi em Maio de 2003, quando se celebravam os 3oo anos da cidade, que foi inaugurada a Sala de Ambar, completamente reconstituída...
Foram usadas 5 toneladas de âmbar, dessa resina fóssil, oriunda do Báltico, que precisa de 45 milhões de anos para se formar.


Mas... não só de Palácio de Verão vive S Petersburgo.
Há também o Palácio de Inverno!

O Hermitage. Que está indissociavelmente ligado a Catarina II, a Grande
Dela provém mesmo o seu nome.
É que, num pequeno palácio, que fazia parte do Palácio de Inverno, gostava Catarina de se refugiar.
Não que aí vivesse com uma eremita, mas só os escolhidos aí entravam, no seu pequeno Hermitage.
E, começou a decorá-lo com obras de arte

Mas isso foi só depois de subir ao poder.
Catarina era alemã ( em àparte, esta dinastia dos Romanov não tem uma linha sucessória muito ortodoxa; Catarina não é caso único, mas são económicos, os russos...)
Bom, era alemã, filha de um general de Frederico o Grande.
Casou com o filho de Pedro I, mas não lhe reconhecia grandes qualidades, nem como marido, nem como governante
Com 33 anos levou a cabo um Golpe de Estado com que ascendeu ao poder
Arranjou apoios, para além do do seu amante, dado que o seu marido era admirador da Prússia e Catarina, tal como Pedro, o Grande, seu sogro, fascinada pela França e pelo Iluminismo francês.

Mantinha correspondência com Diderot, Voltaire e Montesquieu.
Patrocinadora das Artes e das Ciências, chamou a S Petersburgo cientistas e comprou arte.

Mas... quando em 1790, um ano após a Revolução Francesa, Alexander Radishchev, lhe chamou a atenção para a miséria dos povos russos que não pertenciam ao círculo da corte, Catarina enviou-o para a Siberia...

Passemos da sua peculiar ideia de Iluminismo para o Hermitage
Quando já não tinha lugar no Pequeno Hermitage para as suas obras de arte, mandou construir o Grande Hermitage que herdou, tal como todo o conjunto arquitectónico, o nome de Hermitage

Tem 3 milhões de peças.
Só vi as Salas do Renascimento Italiano; do Sec XVII Espanhol e Holandês: e as Salas do Impressionismo Francês. Estas últimas ocupam todo um piso

Catarina, tinha como nome de baptismo Sofia Augusta.
Mudou o nome quando se converteu à fé ortodoxa, por via do seu casamento com o filho de Pedro I.
Durante o seu reinado ( 1762-1796) aumentou as fronteiras e o poder da nobreza.
Conquistou a Crimeia e o acesso ao Mar Negro

Mas, ao lado do Hermitage, fica na história pelos seus inúmeros amantes, o último dos quais era 40 anos mais novo que ela.

Enriqueceu o Hermitage com a construção de um Teatro e com a compra da biblioteca de Voltaire, após a morte deste último.
Introduziu o chá como bebida aristocrática
Também fundou uma escola, para as filhas da nobreza, segundo os princípios Iluministas de acesso da educação às mulheres.

Tinha um neto preferido : Alexandre, que viria a ser Alexandre I. Aquele que, apesar de admirador da cultura francesa, veria o seu Império invadido por Napoleão.


Em S Petersburgo existe uma Catedral, cujo nome "do sangue derramado" evoca a sua razão de ser.
Foi edificada no local onde Alexandre II foi assassinado (1881)
Merece especial destaque porque foi construída em "estilo russo", numa tentativa, estamos agora no Sec XIX, de retorno às tradições nacionais e à arquitectura religiosa.


No Sec XX, S Petersburgo muda, pela 1ª vez, o seu nome.
Desencadeia-se a 1ª Guerra Mundial, e Nicolau II,o Czar, num apelo ao nacionalismo, decidiu chamá-la de Petrogardo, um nome de sonoridade bem russa.

Em Agosto de 1917,S Petersburgo, com o apoio da tripulação do navio "Aurora", a qual em vez de barrar o caminho aos revolucionários, disparou um tiro de canhão sem bala, como sinal do momento em que podiam avançar, passou a ter como seu Presidente Leon Trotsky e fazia parte, tal como toda a Russia, do País dos Sovietes

S Petersburgo muda pela 2ª vez o seu nome, agora chama-se Leninegrado e é a capital da URSS
Mas... mais mudanças se avizinham.

Staline considera que o centro do poder soviético deve ser Moscovo, dada a sua posição mais central face ao territorio da URSS.
Leninegrado deixa de ser a capital.


Durante a 2ª Guerra Mundial, Leninegrado passou pelo episodio mais tragico da sua história : o Bloqueio de 900 dias, que se prolongou desde Setembro de 1941 a Janeiro de 1944.
No Outono de 41, nas proximidades da cidade foi estancado o avanço nazi. Os alemães não conseguiram entrar na cidade, mas ela ficou isolada

Em Novembro de 41, a população sobrevivia com 125 grs de pão por dia e água.
Foi sobre um Lago congelado que, em Janeiro de 42, evacuaram doentes, mulheres e crianças.

Chostakovsky, habitante de Leninegrado durante o bloqueio, compôs a sua 7ª Sinfonia, dedicando-a aos habitantes da cidade.
A Sinfonia foi estreada numa Sala, que hoje tem o seu nome, que fica na Praça das Artes e transmitida, via rádio, para toda a população que, cercada pelos alemães, morria de fome.

Caíram em Leninegrado 1 700 bombas, das quais resultaram 600 milmortos; a fome , no entanto, matou um milhão.
Na Praça da Vitória um poderosissimo monumento foi erigido aos Heroicos Defensores de Leninegrado.

Em 1991, com a queda do regime soviético, Leninegrado muda o seu nome para S Petersburgo

Tal como Moscovo, S Petersburgo tem o seu governo próprio
Segundo a guia, há na Rússia, actualmente, para além das 2 cidades autónomas, 21 Republicas e 66 Regiões, igualmente autónomas, com os seus Governos, Parlamentos, Escolas e Dialectos diferentes.
Existem 130 grupos etnicos
Quanto à religião, é, tal como Moscovo, fundamentalmente ortodoxa. Existem 1300 capelas ortodoxas na cidade, contra as 2 católicas, as 2 mesquitas, 1 sinagoga, 1 luterana e 1 budista
Na cidade, composta por 42 ilhas e 60 pontes, pode observar-se à noite o levantamento das pontes, para assim possibilitar a entrada dos navios.

Uma viagem à Russia não fica completa sem um espectaculo de dança dos cossacos.
Mas, quem são os cossacos?

São nativos das Estepes.
A palavra Kazak significa homem livre

Caracterizados pela liberdade, pelo seu direito a galopar livremente pelas estepes, eram uma espécie de nómadas, guerreiros corajosos e auto-suficientes.

As suas fileiras engrossaram no tempo da monarquia quando muitos homens, aspirando à liberdade e resistindo à autoridade externa, fugiam do controlo dos senhores da guerra.
No tempo dos Czares foi criada, no exercito imperial, uma unidade de cossacos.
Mantendo a sua tradição de liberdade, nunca todos lutaram do mesmo lado da barricada, ao londo da história dos povos russos.

Após a Perestroika começaram a revitalizar as suas tradições ancestrais, a sua cultura, o seu dialecto.

Uma viagem à Russia : Moscovo

Isto foi o que aprendi de uma viagem à Rússia
Bom, a 1ª coisa que devo dizer é que só fui a Moscovo e a S. Petersburgo.

Mas... o que é a Rússia?

É um território colossal que se estende por 11 fusos horários, que se divide em 83 partes, correspondendo a grupos étnicos.

A República Federativa da Russia conta actualmemte com 22 Repúblicas autónomas, 5 Regiões autónomas, 10 Distritos autónomos e 2 Cidades autónomas
Foram estas 2 Cidades que visitei

A sua actual bandeira ( listas horizontais de branco, azul e vermelho) foi acordada em 1993
A história russa começa, no entanto, bem mais cedo...

Toda a extensão do que é hoje a Rússia, era ocupada por tribos nómadas, vagueando entre o Deserto, a Sul; a Estepe, no centro; a Floresta Nordica e a Tundra Artica, pelo que apenas na estepe, a Oeste do Volga se encontram condições de sedentarização

E é, talvez por volta do Sec XI, que uma tribo eslava se fixa na foz do Rio Ros, quer dizer, no local onde esse rio desagua num outro : o Dniepre.
È aqui que encontramos o 1º centro civilizacional dos povos russos, ou seja, na cidade de Kiev
Aí viviam do comércio explorando a sua situação de ponto de encontro entre a China/India e a Europa; entra a Escandinávia e Bizâncio

De Kiev desses tempos fica-nos igualmente uma obra literária : Principe Igor

Mas Kiev era muito vulnerável às investidas dos nómadas e dos Mongóis e acaba por se ver suplantada por uma cidade mais forte, mais a norte, que data do Sec XIV e que chama Moscovo.

Melhor dizendo, Kiev declina, sobrevem depois a ocupação mongol, mas o comércio continua em muitos outros centros, como, por exemplo, Moscovo

Dado o declínio de Kiev, a residência do chefe da Igreja ortodoxa deixa de aí se localizar, e, no sec XIV o Patriarca Petr escolhe Moscovo para instalar a Diocese principal

Razão determinante para , apesar de serem muitos os centros comerciais, será em Moscovo, no Sec. XV que nascerá o Império Russo.

Isto ocorre após a Queda de Constantinopla, quando Ivan IV, o Terrível, se denomina o 1º Czar da Rússia.
Fá-lo após ter conseguido o domínio sobre as cidades comerciais e sobre uma heterogénea confederação tribal, sonhando fazer de Moscovo uma 3ª Roma, herdeira directa do Império Romano Oriental.

Nasce o paradoxo russo.
Composto de uma colossal extensão, o Império multiétnico, com línguas, costumes, leis e religiões diversas, é, à parte o seu centro, subdesenvolvido:
as temperaturas extremas, o seu afastamento das principais rotas de comércio mundias, ( na altura as rotas maritimas) a necessidade de dispender enormes somas para defender as fronteiras, determinaram a marca da fome, determinaram a necessidade de uma estrutura de poder autoritária, onde a rede de relações é semelhante à feudal.
As comunicações internas são extremamente difíceis, o que sublinha o seu carácter "isolado"


Moscovo tem 5 aeroportos. Aquele em que aterrei fica a 12 Km da cidade.
O Hotel fica numa zona verde, o Parque da Cultura, cuja estação de Metro fecha às 22H por questões de segurança.
Jantar no Hotel revelou-se uma aventura, pois nada mais falam que Russo; porque haveriam de saber? disse-mo a expressão da empregada na resposta que me deu. "eu sou Russa!"

Para além do cinzento das ruas, temos então o carácter fechado dos Moscovitas e a sua pronúncia de vogais fechadas, que não destoa dos rostos fechados...

Segundo o guia, a Rússia tem 146 milhóes de habitantes e é notório o envelhecimento da população.
A sua população é maioritariamente de Religião Ortodoxa, mas conta com 20% de muçulmanos.
Em Moscovo existem 6 Mesquitas, e também 5 Igrejas Católicas e 4 Sinagogas.

De momento os Casinos acabam de ser proibidos dado o tráfico de droga e redes de prostituição.


A minha 1ª visita turistica foi ao Kremlin.

Fica na margem esquerda do Rio Moscoco ( que significa água negra) e que deu o nome à cidade

O Kremlin foi construído em madeira, como aliás, toda e qualquer construção, dada a riqueza em florestas

Só no Sec XV, convidados mestres italianos, por Ivan IV, se erigiram as torres e a muralha em pedra vermelha

Toda a cidade russa tem um Kremlin, palavra que significa Fortaleza e cujas muralhas marcam o limite da cidade

Dentro do Kremlin de Moscovo, há a Praça das Catedrais, construções do Sec XV e XVI; o Palácio do Kremlin,construído no Sec XIX e a Armaria, que é o mais antigo Museu da Russia e data do Sec XV


A civilização Russa data da Sec XI, com a sedentarização à volta dos Rio Ros, em Kiev, e conhece o apelo imperial no Sec XV, em Moscovo.

A Rússia teve 2 Dinastias, a que ficou conhecida como "escandinava" e que correspondeu ao poder com sede em Kiev .

Em meados do Sec XIII, a Russia foi invadida pelos Mongóis, sob cujo domínio ficaram durante 200 anos
A Igreja Ortodoxa floresceu durante esse tempo tornando-se um símbolo de identidade nacional.

É dessa altura a representação de Cristo-militante, quadro que decora algumas das mais antigas Catedrais.

A 2ª Dinastia, a dos Romanov, cujo poder teve a Sede em Moscovo, tem as suas origens em Alexandre Nevsky que anexou todas as imediações do Rio Moscovo e se torna o principal entre as dezenas de principes que governavam as suas terras.

Essa dinastia foi retomada no sec XVII por Mikhal Romanov, após o longo e turbulento período que se seguiu à morte de Ivan IV

Ivan I, marca ainda mais o predomínio de Moscovo, quando fica encarregue de levar ao Khan mongol o tributo de todas as terras da região.

A sua cultura-raiz são as construções de madeira e um modo de vida rude e bárbaro, de subsistência, de isolamento e de fome...

Não será pois de estranhar que o 1º Czar da Rússia, Ivan IV, se tenha fascinado pelo estilo Bizantino e tivesse querido construir no estilo de Bizâncio ( aquela que tinha sido a capital do Império Romano Oriental)

As Catedrais do Kremln são disso uma prova
E a Fé Ortodoxa...

O 1º Czar da Russia, sonhando com o imperar sobre uma 3ª Roma, alargou as fronteiras, sujeitou as tribos e o poder religioso ao político ( até então a Igreja não só era independente do Estado como mais rica e poderosa) e importou a Religião Bizantina, fazendo da Moscovo um seguidor da Fé Ortodoxa.

De Bizâncio veio a Fé, o Icone, o Templo e o Livro
Até mesmo a literatura russa nasceu das traduções de obras bizantinas , digamos até mesmo o alfabeto...

Cyrill era um missionário. Enviado de Bizâncio para converter os pagãos, aprendeu a língua nativa dos russos de Kiev e, porque diferentemente dos germanicos, não usavam o latim, concebeu um alfabeto (cirílico) para traduzir a mensagem divina que levava e chegar à população.


Fora das muralhas do Kremlin, estende-se paralelamente a Praça Vermelha ( que no antigo eslavo "krásnaia" além de vermelho significava bonito)
Dela sobressai a Catedral de S Basílio, erigida por ordem de Ivan, o Terrível, para comemorar a anexação de Cazan, e consiste em 9 Igrejas colocadas sobre um alto pedestal.
As suas cúpulas, Bizantinas, representam a chama das velas e, claro, o Tumulo de Lenine


Nas imediações do Kremlin fica a Catedral de Cristo Salvador
Foi mandada erigir para comemorar a vitória da Russia sobre Napoleão

Acabou de ser construída em 1880, mas foi um dos Templos destruídos pelos Soviéticos, pelo que foi reconstituído nos anos de 1990, fiel ao figurino inicial.

Custou-me a acreditar que hoje se fizesem obras como esta, mas verifiquei depois ser hábito dos russos reconstituir na perfeição os edifícios e os seus interiores, que as vicissitudes históricas destruíram,
Desde que haja o plano, a fotografia, eles reconstituem

Falando de Napoleão...
Na Avenida Kutovovsky, há um Arco do Triunfo comemorando a vitória russa sobre Napoleão,um pouco à frente, o Museu da Batalha de Borodine

O Museu tem, no piso superior, uma tela panorama da batalha
O edifício foi expressamente construído para albergar a tela, e data de 1912, ou seja 100 anos apos a batalha que marcou o fim do avanço Napoleónico, aquela onde foi demonstrado que Napoleão não era invencível

Bom, na Batalha quem ganhou foi Napoleão, mas o génio da estratégia de Kutosov fez com que fosse uma vitória bem amarga.

A tela tem 115 metros de largura e 14 metros de altura.
Está pendurada verticalmente numa sala redonda e faz-nos sentir exactamente no meio da batalha
O cenário representa minuciosa e realisticamnete a exacta posição das tropas napoleónicas e russas, num determinado momento da batalha.
É de um rigor fantástico. Quando a tela pintada acaba, na sua base segue-se uma maquete, na qual os objectos da tela são completados.

Espadas, fardas, casas de camponenses, começam na tela, completam-se na maquete com restos reias da batalha, sem que dessa divisão se dê conta, aumentando ainda mais a noção de realidade.

As invasões Napoleónicas provocaram uma onda de patriotismo sem precedentes na história russa.
É o heroísmo do povo russo o herói deste Museu.

O guia chamou a atenção para uma bandeira no seio das tropas napoleónicas: a da Polónia
Napoleão prometera-lhes a independência face ao Império dos Czares

Ora, Alexandre I não podia correr o risco de perder a Polónia, que lhe possibilitava o acesso ao Báltico, pelo que quebrou o Bloqueio Continental (decretado por Napoleão para isolar a Grã-Bretanha) tomando assim a atitude de se opôr ao expansionismo Napoleónico.
Porque Alexandre I violou o Bloqueio, as tropas napoleónicas invadiram a Rússia. Enfim, o pretexto, porque mais cedo ou mais tarde isso aconteceria...
Em Setembro de 1812 trava-se a batalha de Borodine, a uma centena de Kms de Moscovo
Foi a mais longa e mais sangrenta das batalhas napoleónicas
Venceram os franceses, que contavam, aliás, com tropas de todas as nacionalidades, seguidores dos ideais da Revolução Francesa, convencidos que Napoleão os incarnava...

Vencedoras, as tropas napoleónicas dirigiram-.se a Moscovo. Era necessário tomar posse da capital e encontrar mantimentos.

Kutusov, o general russo, ordenara a evacuação da cidade. Assim, quando a Grande Armée entra na capital, torna-se senhora de nada.
Para agravar veio o frio, o que fez com que as tropas fizessem fogueiras para se aquecer, com que acabou por se declarar um dramático fogo na cidade. Então, Napoleão decide a retirada em Outubro.

Pelo caminho deparou-se com a guerrilha, e não era o seu forte lutar com a guerrilha. Foi a Guerra Patriótica de 1812, genuína guerra do povo em defesa das suas terras
A guerrilha, as temperaturas que chegaram a atingir os 30º negativos, tornaram mortifera a retirada. As tropas morreram congeladas ou queimados nas fogueiras que faziam para se aquecer.

Alexandre I persegur Napoleão até Paris e dessa epopeia russa chega-nos o "Guerra e Paz" de Tolstoi e a Abertura 1812 de Tchaikovsky


Da história da Russia constam 2 Guerras Patrióticas
A de 1812 e a que decorreu durante a 2ª Guerra Mundial

É em homenagem aos soldados mortos durante essa Grande Guerra que, no Jardim de Alexandre, fica o Fogo Sagrado: frente ao túmulo do soldado desconhecido
À entrada do Jardim a estátua equestre do General que derrotou Hitler e entrou em Berlim: Zhukov

Para concretizar o seu objectivo, Hitler precisava de invadir e conquistar a URSS
Encontrou no Japão o aliado, com quem em 1936 assinou o Pacto anti-comunista
Mas alargar as fronteiras alemãs passava primeiro pela conquista da Polónia.
Com a contrapartida da partilha da Polónia entre a Alemanha e a Russia, com o acordo de que a Letónia, a Estónia e a Lituânia eram possessões da URSS, Staline assinou com Hitler o Pacto Germano-Soviético de não agressão, em 1938
Em 1939 Hitler invade a Polónia. Em 1941 a URSS.

No final de 1941, Hitler tem 40% do território russo sob o seu controlo. Em 1942, Staline dedica 60% da receita para o esforço bélico, contando com a ajuda pelos EUA e da Grâ-Bretanha; mas o que muito ajudou também foi o génio do general Zhukov, que cercou as tropas alemãs em Stalinegrado.

Foi a mais sangrenta batalha da 2ª Guerra. No campo de batalha ficou 1 milhão de mortos.

Mas, tal como em Borodine se provou que Napoleão não era invencível, em Stalinegrado, provou-se que Hitler não era invencível. Tal como Borodine marca o ponto de viragem da invasão Napoleónica, a que estancou o seu avanço, Stalinegrado marcou o ponto de viragem da 2ª Guerra, a que estancou o avanço nazi.

A arquitectura soviética pode encontrar-se em grande esplendor no Memorial aos mortos da 2ª Grande Guerra, que encima uma enorme Alameda.
No centro dessa Alameda um conjunto de fontes, cujos repuxos lançam água vermelha, em memória de tanto sangue derramado.


Um must é o Metro de Moscovo
Construção da epoca Soviética, as estações são palácios subterraneos. Cada estação pretende homenagear cada uma das republicas que constituíam a União das Republicas Socialistas Soviéticas

Para mim elegi a da Bielorrússia. É clara e luminosa. Os tectos e as paredes transmitem, pelas suas pinturas de cores frescas, a pureza da ilusão na utopia.
Aquela que se fez da glorificação do trabalho comunitário, da educação, da ginástica, enfim, uma estação encantadora a meus olhos

Uma curiosidade é que as escadas rolantes são tão grandes que muitas pessoas lêem livros enquanto as percorrem...


Outra curiosidade... nem só de vodka vivem os povos russos; não comi sopa que não tivesse kvas, uma bebida alcoólica de muito baixo teor alcoólico, que faz parte da alimentação de cada dia...