sexta-feira, 13 de novembro de 2009

contos de fadas


O Homem, criador de histórias

Cria histórias para que faça sentido, na sua mente racional, o que vê à sua volta .
Criou, e continua criando, histórias que explicam o mundo e os homens.
Criou-as antes de inventar a escrita, e, graças a isso, as histórias criadas tornaram-se imortais.


Se tivessem sido escritas, seriam sempre tal qual como um indivíduo as criara, teriam a sua visão do mundo e dos homens.Mas não foram escritas, foram contadas, de geração em geração, durante milénios...

Cada contador, pôs na história um pouco de si próprio, enriquecendo-a com o seu conhecimento. E ao longo dos tempos, cada um as foi limpando do supérfluo e do individual, e foi -se condensando em símbolos aquilo que a razão, por muito que tentasse explicar, não o conseguiria fazer de forma tão abrangente, de forma a ser compreensível por todos na tribo, e para além dela.


É claro que, quando foi inventada a escrita, as histórias que os homens sabiam eram um tal repositório de conhecimento do mundo e dos homens, eram de um tal universalismo que, evidentemente, alguém percebeu que tinham de ser escritas .

Assim nasce a Bíblia, a Ilíada, a Odisseia


Mas, não havia só obras "monumentais"; a tradição oral alimentou-se de muitas pequenas histórias, explicativas do mundo e do homem e das suas relações com os outros homens , as quais pela sua dimensão universal, foram passadas a escrito

Conhecemos, do Egipto à Grécia, uma tradição escrita que remonta a 3 000 anos, cujos temas de base não se alteram.


A umas demos o nome de lendas:

As que têem na sua origem um facto
histórico
Por exemplo, há 270 narrativas do Dilúvio, desde o Mediterraneo às
Civilizações Maya e Inca
Desse facto real, chega até nós, por exemplo,a Atl â ntida e a Arca de
Noé, cujo simbolismo nos fala, ainda hoje, com tal força e beleza

A umas demos o nome de mitos:


Os que são explicações quer dos fenómenos naturais, quer da origem
do mundo e do homem
Por exemplo, é necessário encontrar uma explicação coerente para a
morte.
É um acontecimento tão carecido de lógica que para a quase
totalidade dos povos, a morte não existiu desde sempre; houve
tempo em que todos éramos imortais,
A explicação encontrada por quase todos gira à volta de um
erro ou de uma desobediência humana, que motivou o castigo
divino de perca dessa mortalidade
ainda hoje, conhecida já a lógica do fenómeno, o
poderoso simbolismo do Jardim do Éden ou da Idade do
Ouro, não deixa ninguém insensível



A umas demos o nome de contos de fada:

As que relatam a vivência de um indivíduo, as suas motivações, as
suas angústias ;

Uma história que, transmitida de geração em geração, limada e
enriquecida pela sabedoria dos tempos, se transformou, de uma
vivência individual, num espelho da Natureza humana.


Nem sempre se chamaram Contos de Fadas.
Eram contos tradicionais, que se contariam à lareira, ou nos Salões;
eram contos para adultos,
Quando foram passados a escrito, para cada um havia mais de uma
versão

Por exemplo,

Havia uma versão de "A gata borralheira", na qual as irmãs
cortam os pés para conseguirem calçar o sapato e, descoberta a
fraude, são repudiadas e viverão como pedintes;

Em "Hansel e Gretel" eles matam a dona da casinha de chocolate

Na "Bela Adormecida" e na " Branca Neve" a princesa é vítima de
violação, quer, no 1º conto, por parte do pai, quer , no 2º, por parte do
Principe

Em "O Capuchinho Vermelho" não existia nenhum lenhador.
Ela é simplesmente comida pelo lobo.

Estas eram algumas das versões existentes no Sec XVII, na França de Luís XIV, onde viveu Charles Perrault, que se dedicou à compilação dos contos populares do reino, altura em que escolheu uma versão, e a passou à escrita.

100 anos mais tarde, Sec XVIII, portanto, os irmãos Grimm dedicaram-se à compilação de antigas narrativas populares do povo alemão.

Depararam-se com um facto curioso - para além de alguns novos contos, a sua compilação não diferia em muito da compilação de Perrault;
muitos dos contos eram, pois, populares em todo o Centro da Europa

E... tendo em conta o seu posterior acolhimento, populares em todo o mundo...

Os contos têem algo a dizer a todos nós; a sua linguagem, filtrada através de milénios, tem tal riqueza de simbolismo que nos fala a todos e de muitas formas diferentes

Foi no Sec XIX que apareceram os primeiros Contos escritos para crianças.
O seu autor, o sueco Andersen, criou, de raiz, histórias para crianças.

Não são contos tradicionais, mas foram escritos obedecendo às mesmas caracteríticas, à mesma estrutura, dos contos criados colectivamente



Os Contos de Fadas



Cada conto, relatando uma especifica vivência individual, tem no seu "centro de história" uma predisposição ou falha exarcebadas, uma caracteristica quase doentia de personalidade : pode ser a vaidade, a gula,a inveja, a luxúria, a hipocrisia, a avareza, a preguiça, etc.


Crianças, e também adultos, sempre encontram uma personagem na qual se podem projectar, e, docemente, poderão incorporar, aceitar, os seus próprios conflitos internos.

E as personagens não são como na realidade todos somos: bons e maus em simultâneo, são personagens de conteúdo em absoluto estilizado, o que faz delas personagens de fácil identificação, até para uma criança, são personagens típicas e universais, mas nunca ambivalentes

Para além da realidade interior, para além de "como viver com os outros", crianças, e também adultos, sofrem de outro tipo de ansiedades, ditas "existenciais", porque absolutamente indissociáveis da existência humana: a necessidade de sermos amados, o medo do desamparo, da solidão, da morte...

São temas dos contos de fadas!

Eles falam de monstros, que bem podem ser os que temos dentro de nós, falam de quais os comportamentos aceites ou penalizados pela comunidade, mas sobretudo afirmam vivamente que a solução feliz para o que quer que seja, é a construção de uma ligação afectiva verdadeiramente satisfatória com alguém.

Quer dizer, os contos de fadas são representações simbólicas dos problemas que afectaram e afectam os homens, representações simbólicas das dores da natureza humana , mas a sua especificidade é o optimismo: por mais aterrador que seja o conto, o seu final será sempre feliz, isso é garantido.


Por essa garantia de final feliz, por essa tranquilidade adquirida desde logo, os problemas sugeridos no conto ajudam as crianças a resolver, a ir resolvendo ( há sempre contos que pedem para ouvir uma e outra vez, há sempre passagens em que não permitem "inovações") os seus próprios problemas interiores.

É que, nos contos de fadas, para além do problema, há também a solução, uma profunda revelação sobre a vida a e natureza humana, mas ela é tão subtilmente sugerida, que nos deixa livres de a entender como adaptada ou não a cada um, como adaptada ou não ao momento da nossa vida em que os lemos.


É certo que não reflectem o mundo actual; todos eles acontecem "in illo tempore", num qualquer tempo difuso e fora da nossa realidade quotidiana.Mas, ao ouvirmos a simples expressão do "Era uma vez" , todos somos levados para uma realidade onde não importa o que nos rodeia, todos sentimos, percebamos ou não, que o assunto a tratar é o que se passa no interior de cada um.

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