quinta-feira, 30 de julho de 2009

Uma viagem à Russia : Moscovo

Isto foi o que aprendi de uma viagem à Rússia
Bom, a 1ª coisa que devo dizer é que só fui a Moscovo e a S. Petersburgo.

Mas... o que é a Rússia?

É um território colossal que se estende por 11 fusos horários, que se divide em 83 partes, correspondendo a grupos étnicos.

A República Federativa da Russia conta actualmemte com 22 Repúblicas autónomas, 5 Regiões autónomas, 10 Distritos autónomos e 2 Cidades autónomas
Foram estas 2 Cidades que visitei

A sua actual bandeira ( listas horizontais de branco, azul e vermelho) foi acordada em 1993
A história russa começa, no entanto, bem mais cedo...

Toda a extensão do que é hoje a Rússia, era ocupada por tribos nómadas, vagueando entre o Deserto, a Sul; a Estepe, no centro; a Floresta Nordica e a Tundra Artica, pelo que apenas na estepe, a Oeste do Volga se encontram condições de sedentarização

E é, talvez por volta do Sec XI, que uma tribo eslava se fixa na foz do Rio Ros, quer dizer, no local onde esse rio desagua num outro : o Dniepre.
È aqui que encontramos o 1º centro civilizacional dos povos russos, ou seja, na cidade de Kiev
Aí viviam do comércio explorando a sua situação de ponto de encontro entre a China/India e a Europa; entra a Escandinávia e Bizâncio

De Kiev desses tempos fica-nos igualmente uma obra literária : Principe Igor

Mas Kiev era muito vulnerável às investidas dos nómadas e dos Mongóis e acaba por se ver suplantada por uma cidade mais forte, mais a norte, que data do Sec XIV e que chama Moscovo.

Melhor dizendo, Kiev declina, sobrevem depois a ocupação mongol, mas o comércio continua em muitos outros centros, como, por exemplo, Moscovo

Dado o declínio de Kiev, a residência do chefe da Igreja ortodoxa deixa de aí se localizar, e, no sec XIV o Patriarca Petr escolhe Moscovo para instalar a Diocese principal

Razão determinante para , apesar de serem muitos os centros comerciais, será em Moscovo, no Sec. XV que nascerá o Império Russo.

Isto ocorre após a Queda de Constantinopla, quando Ivan IV, o Terrível, se denomina o 1º Czar da Rússia.
Fá-lo após ter conseguido o domínio sobre as cidades comerciais e sobre uma heterogénea confederação tribal, sonhando fazer de Moscovo uma 3ª Roma, herdeira directa do Império Romano Oriental.

Nasce o paradoxo russo.
Composto de uma colossal extensão, o Império multiétnico, com línguas, costumes, leis e religiões diversas, é, à parte o seu centro, subdesenvolvido:
as temperaturas extremas, o seu afastamento das principais rotas de comércio mundias, ( na altura as rotas maritimas) a necessidade de dispender enormes somas para defender as fronteiras, determinaram a marca da fome, determinaram a necessidade de uma estrutura de poder autoritária, onde a rede de relações é semelhante à feudal.
As comunicações internas são extremamente difíceis, o que sublinha o seu carácter "isolado"


Moscovo tem 5 aeroportos. Aquele em que aterrei fica a 12 Km da cidade.
O Hotel fica numa zona verde, o Parque da Cultura, cuja estação de Metro fecha às 22H por questões de segurança.
Jantar no Hotel revelou-se uma aventura, pois nada mais falam que Russo; porque haveriam de saber? disse-mo a expressão da empregada na resposta que me deu. "eu sou Russa!"

Para além do cinzento das ruas, temos então o carácter fechado dos Moscovitas e a sua pronúncia de vogais fechadas, que não destoa dos rostos fechados...

Segundo o guia, a Rússia tem 146 milhóes de habitantes e é notório o envelhecimento da população.
A sua população é maioritariamente de Religião Ortodoxa, mas conta com 20% de muçulmanos.
Em Moscovo existem 6 Mesquitas, e também 5 Igrejas Católicas e 4 Sinagogas.

De momento os Casinos acabam de ser proibidos dado o tráfico de droga e redes de prostituição.


A minha 1ª visita turistica foi ao Kremlin.

Fica na margem esquerda do Rio Moscoco ( que significa água negra) e que deu o nome à cidade

O Kremlin foi construído em madeira, como aliás, toda e qualquer construção, dada a riqueza em florestas

Só no Sec XV, convidados mestres italianos, por Ivan IV, se erigiram as torres e a muralha em pedra vermelha

Toda a cidade russa tem um Kremlin, palavra que significa Fortaleza e cujas muralhas marcam o limite da cidade

Dentro do Kremlin de Moscovo, há a Praça das Catedrais, construções do Sec XV e XVI; o Palácio do Kremlin,construído no Sec XIX e a Armaria, que é o mais antigo Museu da Russia e data do Sec XV


A civilização Russa data da Sec XI, com a sedentarização à volta dos Rio Ros, em Kiev, e conhece o apelo imperial no Sec XV, em Moscovo.

A Rússia teve 2 Dinastias, a que ficou conhecida como "escandinava" e que correspondeu ao poder com sede em Kiev .

Em meados do Sec XIII, a Russia foi invadida pelos Mongóis, sob cujo domínio ficaram durante 200 anos
A Igreja Ortodoxa floresceu durante esse tempo tornando-se um símbolo de identidade nacional.

É dessa altura a representação de Cristo-militante, quadro que decora algumas das mais antigas Catedrais.

A 2ª Dinastia, a dos Romanov, cujo poder teve a Sede em Moscovo, tem as suas origens em Alexandre Nevsky que anexou todas as imediações do Rio Moscovo e se torna o principal entre as dezenas de principes que governavam as suas terras.

Essa dinastia foi retomada no sec XVII por Mikhal Romanov, após o longo e turbulento período que se seguiu à morte de Ivan IV

Ivan I, marca ainda mais o predomínio de Moscovo, quando fica encarregue de levar ao Khan mongol o tributo de todas as terras da região.

A sua cultura-raiz são as construções de madeira e um modo de vida rude e bárbaro, de subsistência, de isolamento e de fome...

Não será pois de estranhar que o 1º Czar da Rússia, Ivan IV, se tenha fascinado pelo estilo Bizantino e tivesse querido construir no estilo de Bizâncio ( aquela que tinha sido a capital do Império Romano Oriental)

As Catedrais do Kremln são disso uma prova
E a Fé Ortodoxa...

O 1º Czar da Russia, sonhando com o imperar sobre uma 3ª Roma, alargou as fronteiras, sujeitou as tribos e o poder religioso ao político ( até então a Igreja não só era independente do Estado como mais rica e poderosa) e importou a Religião Bizantina, fazendo da Moscovo um seguidor da Fé Ortodoxa.

De Bizâncio veio a Fé, o Icone, o Templo e o Livro
Até mesmo a literatura russa nasceu das traduções de obras bizantinas , digamos até mesmo o alfabeto...

Cyrill era um missionário. Enviado de Bizâncio para converter os pagãos, aprendeu a língua nativa dos russos de Kiev e, porque diferentemente dos germanicos, não usavam o latim, concebeu um alfabeto (cirílico) para traduzir a mensagem divina que levava e chegar à população.


Fora das muralhas do Kremlin, estende-se paralelamente a Praça Vermelha ( que no antigo eslavo "krásnaia" além de vermelho significava bonito)
Dela sobressai a Catedral de S Basílio, erigida por ordem de Ivan, o Terrível, para comemorar a anexação de Cazan, e consiste em 9 Igrejas colocadas sobre um alto pedestal.
As suas cúpulas, Bizantinas, representam a chama das velas e, claro, o Tumulo de Lenine


Nas imediações do Kremlin fica a Catedral de Cristo Salvador
Foi mandada erigir para comemorar a vitória da Russia sobre Napoleão

Acabou de ser construída em 1880, mas foi um dos Templos destruídos pelos Soviéticos, pelo que foi reconstituído nos anos de 1990, fiel ao figurino inicial.

Custou-me a acreditar que hoje se fizesem obras como esta, mas verifiquei depois ser hábito dos russos reconstituir na perfeição os edifícios e os seus interiores, que as vicissitudes históricas destruíram,
Desde que haja o plano, a fotografia, eles reconstituem

Falando de Napoleão...
Na Avenida Kutovovsky, há um Arco do Triunfo comemorando a vitória russa sobre Napoleão,um pouco à frente, o Museu da Batalha de Borodine

O Museu tem, no piso superior, uma tela panorama da batalha
O edifício foi expressamente construído para albergar a tela, e data de 1912, ou seja 100 anos apos a batalha que marcou o fim do avanço Napoleónico, aquela onde foi demonstrado que Napoleão não era invencível

Bom, na Batalha quem ganhou foi Napoleão, mas o génio da estratégia de Kutosov fez com que fosse uma vitória bem amarga.

A tela tem 115 metros de largura e 14 metros de altura.
Está pendurada verticalmente numa sala redonda e faz-nos sentir exactamente no meio da batalha
O cenário representa minuciosa e realisticamnete a exacta posição das tropas napoleónicas e russas, num determinado momento da batalha.
É de um rigor fantástico. Quando a tela pintada acaba, na sua base segue-se uma maquete, na qual os objectos da tela são completados.

Espadas, fardas, casas de camponenses, começam na tela, completam-se na maquete com restos reias da batalha, sem que dessa divisão se dê conta, aumentando ainda mais a noção de realidade.

As invasões Napoleónicas provocaram uma onda de patriotismo sem precedentes na história russa.
É o heroísmo do povo russo o herói deste Museu.

O guia chamou a atenção para uma bandeira no seio das tropas napoleónicas: a da Polónia
Napoleão prometera-lhes a independência face ao Império dos Czares

Ora, Alexandre I não podia correr o risco de perder a Polónia, que lhe possibilitava o acesso ao Báltico, pelo que quebrou o Bloqueio Continental (decretado por Napoleão para isolar a Grã-Bretanha) tomando assim a atitude de se opôr ao expansionismo Napoleónico.
Porque Alexandre I violou o Bloqueio, as tropas napoleónicas invadiram a Rússia. Enfim, o pretexto, porque mais cedo ou mais tarde isso aconteceria...
Em Setembro de 1812 trava-se a batalha de Borodine, a uma centena de Kms de Moscovo
Foi a mais longa e mais sangrenta das batalhas napoleónicas
Venceram os franceses, que contavam, aliás, com tropas de todas as nacionalidades, seguidores dos ideais da Revolução Francesa, convencidos que Napoleão os incarnava...

Vencedoras, as tropas napoleónicas dirigiram-.se a Moscovo. Era necessário tomar posse da capital e encontrar mantimentos.

Kutusov, o general russo, ordenara a evacuação da cidade. Assim, quando a Grande Armée entra na capital, torna-se senhora de nada.
Para agravar veio o frio, o que fez com que as tropas fizessem fogueiras para se aquecer, com que acabou por se declarar um dramático fogo na cidade. Então, Napoleão decide a retirada em Outubro.

Pelo caminho deparou-se com a guerrilha, e não era o seu forte lutar com a guerrilha. Foi a Guerra Patriótica de 1812, genuína guerra do povo em defesa das suas terras
A guerrilha, as temperaturas que chegaram a atingir os 30º negativos, tornaram mortifera a retirada. As tropas morreram congeladas ou queimados nas fogueiras que faziam para se aquecer.

Alexandre I persegur Napoleão até Paris e dessa epopeia russa chega-nos o "Guerra e Paz" de Tolstoi e a Abertura 1812 de Tchaikovsky


Da história da Russia constam 2 Guerras Patrióticas
A de 1812 e a que decorreu durante a 2ª Guerra Mundial

É em homenagem aos soldados mortos durante essa Grande Guerra que, no Jardim de Alexandre, fica o Fogo Sagrado: frente ao túmulo do soldado desconhecido
À entrada do Jardim a estátua equestre do General que derrotou Hitler e entrou em Berlim: Zhukov

Para concretizar o seu objectivo, Hitler precisava de invadir e conquistar a URSS
Encontrou no Japão o aliado, com quem em 1936 assinou o Pacto anti-comunista
Mas alargar as fronteiras alemãs passava primeiro pela conquista da Polónia.
Com a contrapartida da partilha da Polónia entre a Alemanha e a Russia, com o acordo de que a Letónia, a Estónia e a Lituânia eram possessões da URSS, Staline assinou com Hitler o Pacto Germano-Soviético de não agressão, em 1938
Em 1939 Hitler invade a Polónia. Em 1941 a URSS.

No final de 1941, Hitler tem 40% do território russo sob o seu controlo. Em 1942, Staline dedica 60% da receita para o esforço bélico, contando com a ajuda pelos EUA e da Grâ-Bretanha; mas o que muito ajudou também foi o génio do general Zhukov, que cercou as tropas alemãs em Stalinegrado.

Foi a mais sangrenta batalha da 2ª Guerra. No campo de batalha ficou 1 milhão de mortos.

Mas, tal como em Borodine se provou que Napoleão não era invencível, em Stalinegrado, provou-se que Hitler não era invencível. Tal como Borodine marca o ponto de viragem da invasão Napoleónica, a que estancou o seu avanço, Stalinegrado marcou o ponto de viragem da 2ª Guerra, a que estancou o avanço nazi.

A arquitectura soviética pode encontrar-se em grande esplendor no Memorial aos mortos da 2ª Grande Guerra, que encima uma enorme Alameda.
No centro dessa Alameda um conjunto de fontes, cujos repuxos lançam água vermelha, em memória de tanto sangue derramado.


Um must é o Metro de Moscovo
Construção da epoca Soviética, as estações são palácios subterraneos. Cada estação pretende homenagear cada uma das republicas que constituíam a União das Republicas Socialistas Soviéticas

Para mim elegi a da Bielorrússia. É clara e luminosa. Os tectos e as paredes transmitem, pelas suas pinturas de cores frescas, a pureza da ilusão na utopia.
Aquela que se fez da glorificação do trabalho comunitário, da educação, da ginástica, enfim, uma estação encantadora a meus olhos

Uma curiosidade é que as escadas rolantes são tão grandes que muitas pessoas lêem livros enquanto as percorrem...


Outra curiosidade... nem só de vodka vivem os povos russos; não comi sopa que não tivesse kvas, uma bebida alcoólica de muito baixo teor alcoólico, que faz parte da alimentação de cada dia...

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