quinta-feira, 25 de junho de 2009

para onde vou

"Tudo sucede igualmente a todos ; o mesmo sucede ao justo e ao impio; ao bom e ao puro, como ao impuro; ...

Este é o mal que há entre tudo quanto se faz debaixo do sol; que a todos sucede o mesmo; que também o coração dos filhos do homem está cheio de maldade; ...

... come com alegria o teu pão e bebe, com bom coração, o teu vinho, pois já Deus se agrada das tuas obras.
Em todo o tempo sejam alvos os teus vestidos, e nunca falte o óleo sobre a tua cabeça.
Goza a vida com a mulher que amas, todos os dias de vida da tua vaidade,... porque esta é a tua porção nesta vida... tudo o que te vier à mão para fazer , faze-o conforme as tuas forças, porque , na sepultura, para onde tu vais, não há obra, nem industria, nem ciencia, nem sabedoria alguma."

Eclesiastes 9



Bom, a concepção de mundo que aqui expus, é a minha. A concepção da natureza humana, é a minha. Por isso, será agora a vez da minha ideia do que fazer com a vida, antes que a morte chegue, pois que é para lá vou.

Não é "o que deve ser", pois que já comemos da árvore do Bem e do Mal... Já cada um sabe o que para si é Bom ou Mau.
E há tantos percursos prováveis, defensáveis e legítimos, quantos o número de seres humanos.

Raramente olhando o mesmo facto vemos as mesmas coisas, mas mesmo que vejamos as mesmas coisas, cada um é possuidor de uma estrutura mental diferente, condicionada genetica e vivencialmente, pelo que cada um as interpreta segundo as "lentes" que tem nos olhos.

Com tijolos rigorosamente iguais podem fazer-se inúmeros edíficios radicalmente diversos, tal como com as 23 letras do alfabeto comunicamos em inesgotável diversidade.
Cada um responde à complexidade das circunstâncias físicas e psíquicas com a sua individualidade, pelo que considero que cada percurso é o melhor para a pessoa que o percorre, nesse determinado momento.

Precisando melhor, e à parte o comportamento anti-social, cada um tem como legítima verdade aquela que, num momento determinado da sua vida, melhor se lhe adapta e responde às suas necessidades interiores, à sua luta pela felicidade.

Eu parti do "Jardim", o de Epicuro, no qual era ensinado que O prazer é o primeiro dos bens. É a ausência de dor no corpo e de inquietação na alma.

Nessa procura incessante do prazer, no Jardim enriquecia-se a vida com tudo aquilo que a pode tornar mais bonita.

Pode até ser um caminho fácil quando se é saudável, jovem, amado e reconhecido, mas nunca nada é como foi ou como será.
Manter o objectivo da conquista do prazer em quaisquer circunstâncias é um objectivo bem mais complexo do que faz supôr.
Não é tão frívolo como parece, é até arrojado.
É suficiente trabalho o da preservação da saúde física e do apaziguamento das inquietações da alma, para estarmos munidos de um projecto de vida ambicioso, apesar de apenas sensato.

À parte a saúde física, que já em si comporta escolhas desafiantes, há a saúde mental...
E há pessoas menos afortunadas... há quem não tenha mentes tão saudáveis, tal como há quem não tenha um estômago forte. Como chegar à ataraxia quando a alma sofre de inquietações?

Em busca da paz interior, sem esquecer o Jardim, passo pelo trabalho de "limpar" os meus atalhos mentais. Aqueles que me impedem de seguir por auto estradas. E toda a gente sabe o quanto as auto estradas são mais confortáveis, como tornam a vida mais fácil.

O trabalho é que não é fácil, muito menos rápido, mas se aprendi no Jardim que o prazer é a ausência de dor no corpo e de inquietação na alma, para o atingir, terei de desobstruir as minhas auto estradas.

Não à força de picaretas, muito menos de dinamite, simplesmente com perseverança e aceitação.
É que, apesar dessa limpeza da alma, que, tal como a da nossa casa, é trabalho regular, não se obtém dele um ser perfeito.
É necessário aceitarmo-nos como somos e o êxito do nosso trabalho mede-se menos pelo resultado que pelo esforço.

Em matéria dessa necessária aceitação, fazem-me sentido os ensinamentos do Oriente, que ensinam como nos aceitar , é certo, mas também como aceitar o fluir das circunstâncias, e nosso lugar nas que efectivamente são as nossas, mesmo que ou quando não nos são favoráveis, ou seja, como lidar com a dor.

Aceitar o fluir das circunstâncias não é passividade, é perguntar, perante o cenário que se nos oferece, que poderemos fazer para ser nele mais feliz.

O Oriente faz-me igualmente sentido, quando afirma que não há ser humano que não sofra pelas angústias que, por serem comuns, se chamam existenciais,

ou seja, ensina-se a compaixão, o ver em cada um, um igual a mim, que sofre sem merecimento e que , seguramente, luta, com os recursos físicos e mentais com que a Natureza o dotou, pela felicidade,

por esse estado de espírito, que se alimenta, acredito, da tomada de consciência da ausência de dor no corpo e de inquietação na alma, que se alimenta de auto-estima, de bondade, de gratidão pelo que temos e/ou conseguimos.

É certo que, para alguns poderá ser um objectivo mais fácil, pois que, por sorte, quem tem mais recursos , lida com a vida de modo mais pró-activo, de modo mais saudável.
Para os outros, o caminho para lá chegar é o da perseverança no cuidado com a alimentação da alma.
Mas, mesmo para os mais saudáveis, quer de corpo, quer de espírito, o caminho apresenta-se complexo, pois que o mundo não foi feito para o homem e somos todos igualmente acometidos pelos dilemas existenciais:a necessidade de nos sentirmos amados; o medo de que pensem que não prestamos para nada; o amor pela vida; o medo da morte.

Assim, para todos a perseverança, é, em si mesma, um longo caminho... nasce do agir com um propósito.

É um caminho longo, pois que ninguém duvida que, embora tudo o que cada um faz, fá-lo para seu prazer, fá-lo em vista da sua felicidade, nem sempre o resultado é o pretendido.
O caminho de que falo não pode parar, pelo menos em desistência, perante um resultado menos feliz.

Tal como se usa regularmente creme na cara. Não o usamos para impedir o envelhecimento da pele e a sua flacidez, mas para que, perante o resultado do desgaste do tempo, nos possamos olhar com o orgulho de quem a ele não se abandonou, de quem persiste na luta de se sentir bem consigo, apesar de se saber à partida quem a vai ganhar.

A alimentação da alma, que visa esse estado mental a que chamo felicidade, é pois um longo caminho, feito de disciplina, onde a resposta ao "porquê o esforço, em vez de fazer simplesmente o que me apetece?" terá, como meta, a resposta "eu valho o esforço"

E não se trata de um esforço estóico, é um esforço feliz, dado que é o prazer dele resultante que é valorizado.

Quer para os mais saudáveis, quer para os menos, independentemente do grau de felicidade a que cada um consegue chegar, o sítio para onde vamos é comum. No Oriente ensina-se como nos convertermos no processo cósmico, ou seja, como aceitar a morte.

Quiseram as condicionantes fisico-quimicas que o homem, diferentemente de uma formiga, precise de um projecto de vida, mas, não é próprio a um ser consciente, esquecer que a lei natural não nos dá estatuto diferente da formiga.

Tudo isto me disponho a aprender, e verifiquei, com espanto, diga-se, que o modo de aí chegar é repetido, exactamente com as mesmas palavras, quer no Jardim quer no Oriente, quietar a mente e exercer domínio sobre mim mesma.

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