terça-feira, 9 de junho de 2009

de onde venho

E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em seus narizes o folego da vida; e o homem foi feito alma vivente. E plantou o Senhor Deus um Jardim no Eden, da banda do oriente; e pôs ali o homem que tinha formado. E o Senhor Deus fez brotar da terra toda a árvore agradável à vista, e boa para comida... E saía um rio do Eden para regar o jardim... E tomou o Senhor Deus o homem, e o pôs no jardim do Eden, para o lavrar e o guardar."

É repousante ler estas linhas, é um bálsamo para a alma o ouvir que a Terra foi criada, com cuidado e amor, para o Homem nela viver feliz.Mas, todos sabemos que isso foi in illo tempore, no tempo mítico do "Era uma vez"

Seria até bom ficar na doçura destas linhas, já que, nada mais para além delas, me diz que o mundo foi criado, com amor, para o homem.

Tenho como convicção que o Universo actualmente conhecido surgiu de uma espécie de buraco negro. De um ponto minusculo carregado de energia.

Não tenho grande ideia sobre o quando ou o porquê da libertação dessa energia, mas acredito que o Universo era, antes do Big Bang, do tamanho desse minusculo ponto.

O que quer que seja que fez libertar essa energia, ocasionou o aparecimento das primeiras partículas, que estruturam desde então o Universo.
E, tenho como convicção profunda a ideia de que foi nesse preciso momento, o da libertação da energia contida nesse ponto, que se iniciou o Jogo cósmico.

Chamo-lhe Jogo, mas é um jogo inicialmente sem qualquer regra, é um Jogo em absoluto aberto.
Não tinha determinação prévia de quais as etapas a percorrer, nem de qual o objectivo a alcançar.

Isto foi para aí há uns 15 biliões de anos

Como imagino eu que se desenrolou esse Jogo? Bom... a existência de uma partícula de uns tantos elementos químicos simples abrem, por si só, uma infinidade de possibilidades de combinações.

Ao primeiro desenrolar de fenómenos químicos, vejo-o como a concretização, entre uma infinidade de possibilidades, duma que simplesmente aconteceu, e não qualquer outra originàriamente possivel, pois, tal como nas palavras de um poeta andaluz "caminante non hay camino, se hace el camino al andar"

Essa possibilidade concreta foi determinada pelo acaso da interacção desta partícula concreta com aqueloutra, pela luta pela sobrevivência de cada elemento, de cada átomo , que dessa interacção resultaram, pela sobrevivência que visava o seu maior bem-estar

E foi determinante para a criação do passo seguinte, dado que foi a base na qual se tornou possível o desenrolar de nova etapa , a qual, igualmente, de início, poderia ter uma infinidade de saídas.

Como um jogo, onde tudo está inicialmente em aberto e, no fim do tempo regulamentar, o resultado é aquele e não poderia ter sido outro, se observarmos não o que poderia ter acontecido, mas o que o colectivo fez acontecer de facto.

Essas possibilidades são infinitamente acrescidas pelo facto de todos os elementos químicos, ao conjugarem-se, abrirem caminho ao surgimento de novas e dinânicas e complexas entidades fisico-quimicas, até então inexistentes.
As quais, por sua vez, abrirão novas e ainda maiores possibilidades de combinações, delas resultando sempre mais complexas entidades fisico-quimicas, num processo infindável de criação do Universo, processo esse que dura até aos nossos dias, - dias em que se sabe que o Universo se continua a expandir-, processo de criação que durará depois de eu morrer.

No seu longo processo de (trans)formação, cada entidade foi encontrando, no conjunto em que se insere, o seu mais adequado meio de sobrevivência.

Este equilíbrio é frágil, o acordo que o colectivo atingiu em determinada etapa é fruto de luta interna, porque todos os organismos estão permanentemente comprometidos na resolução dos seus próprios problemas.

O Universo nunca foi sereno. Surgiu de uma explosão cósmica. A luta, que é universal, é violenta:
as estrelas de neutrões cuja matéria foi comprimida num espaço de poucos kilómetros e cuja rotação en milésimas de segundo geram campos magnéticos brutais (púlsares); o colapso explosivo de estrelas massivas aquando da sua morte (supernovas) ; raios gamma que libertam, em apenas uns segundos, a mesma energía que um bilião de bombas ...

o encontro das placas tectonicas que propaga ondas sísmicas; uma erupção de um vulcão submarino que provoca tsunamis; um centro de baixa pressão atmosférica, que alcançando o chão toma a forma de tornado;


Mas uma grande catastrofe natural pode criar condições tão radicalmente diferentes das anteriores, que mude o cenário:

a queda de gigantescos meteoritos sobre o nosso planeta, há cerca de 65 milhões de anos, impediu-o de receber luz solar e assim desapareceram os dinossauros, animais de sangue frio, mas possibilitou a sobrevivência da espécie dos mamíferos, animais de sangue quente, os quais, reposto o percurso da luz e do calor, pôde dar azo ao aparecimento de novas espécies de mamiferos, entre os quais nos encontramos;


um grupo especifico de bacterias, foram os primeiros organismos vivos a realizarem a fotossintese , produziram o oxigénio, mas morreram na presença tóxica do oxigénio, ao qual nós devemos a vida e a oxidação que nos envelhece;


a passagem do Homem de ser herbívoro a omnívoro, aconteceu devido a uma catastrófica alteração climática, aí há uns 3 ou 4 milhões de anos, responsável por tal carência de vegetais, que nos levou até a alterar a dentadura, para nos possibilitar comer frutos secos e carne


Assim, o Universo ( a diversidade do Uno) é, para mim, um organismo único, cujo desenvolvimento é fruto da necessidade de cada um dos elementos resolver os seus problemas a seu contento.

Há no entanto a considerar que o resultado encontrado, apesar do seu empenho na luta, pode ser-lhe desfavorável .

Como num Jogo... em que cada jogador tem o máximo interesse em brilhar, mas pode acontecer que ganhe a equipa contrária.

É que não está só. Faz parte de um colectivo universal... onde se conta com a mesma determinação em todos os outros, pelo que as soluções encontradas não são eternas.

Nada está pré-definido, é através da acção de cada entidade que se vai criando o conjunto circunstancial que dará origem a outra realidade.

E, se a acção de cada um tem um objectivo de luta pelo seu bem estar, o resultado alcançado não tem qualquer intenção de finalidade, é decorrente do acontecido.


Quis o acaso físico-químico que, num ser natural surgisse a inteligência, a consciência

É este o sítio de onde venho
É seguramente uma visão bem menos reconfortante do que aquela que o Genesis nos sugere.


Os mitos, tal como os contos de fadas, são respostas a mistérios vividos por seres humanos, que tentam comunicá-los o melhor que sabem e podem, e são passados de geração em geração,( enriquecidos e filtrados com e pelas vivências de cada contador) , porque continua a fazer sentido , de geração em geração, a procura de respostas às questões neles colocadas.
Mas, se mitos e contos de fadas respondem a angustias existenciais com um simbolismo de tamanha beleza, eu também procuro esse apaziguamento do modo que me é possível.

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