domingo, 22 de março de 2009

As Cruzadas

1095

A conquista de Jerusalém ( Iheru-Shalom) pelos Turcos, levou ao pedido de ajuda do Imperador e Patriarca da Igreja Bizantina (Aleixo) ao Papa (Urbano II)

Há cerca de 40 anos atrás, o Grande Cisma do Ocidente levara à ruptura da Igreja Bizantina, com sede em Constantinopla, face à Igreja Romana. Queriam independência face a Roma, tendo como pretexto a sua oposição à opulência da Igreja Ocidental e a sua vocação política.

Agora, face à ameaça Islâmica, Aleixo . o chefe da Igreja Bizantina, propõe a união das 2 Igrejas em troca da unidade da Europa contra o Islão.

É convocado o Concilio de Piacenza e foi acordada a proposta de Aleixo, juntos combateriam, sob o comando Ocidental.

Nesse mesmo ano, e para dar bom seguimento à proposta aprovada no Concílio de Piacenza, Urbano II convoca o Concílio de Clermont. Este tinha como o objectivo unificar a Cristandade Ocidental sobre a autoridade de Roma.

Com efeito, não raras foram as situações de existência de 2 Papas no Ocidente, apoiados por diferentes poderes políticos (França/Itália versus Germania.

Este Concílio apelou à Guerra Santa e ofereceu indulgência para os crimes que se iriam cometer, o que acabou por ter a forma de uma indulgência total sobre todos os pecados dos participantes, não só os que iriam cometer durante a guerra, como sobre todos os seus pecados individuais.

1096

Os Cristãos levantaram-se em defesa da Cidade Santa.

Armada apenas de boa vontade, a Cruzada do Povo, dirigida por Pedro, o Eremita, foi um fracasso.

A 1ª Cruzada - a Cruzada dos Barões - partiu de Montpellier,chefiada militarmente por Lord Raymond de Saint-Giles, conde de Toulousse, sendo comandada por Adhémar, bispo de Puy, enquanto legado do Papa.

Roger, da vila de Lunel, é um duque francês, vassalo de Lord Raymond, que decide começar a escrever o seu diário no dia em que decide integrar a Cruzada.

Roger vive perturbado pela luxúria. Integra a Cruzada para alcançar a remissão do pecado.
Quer libertar-se do desejo que sente pela sua mulher. Incapaz de dominar o desejo por ela, possuiu-a quando ela era ainda casada.
O facto de o marido posteriormente se ter suicidado, só lhe veio aumentar a culpa, até porque, confessa, esse mesmo facto, lhe estimula a luxúria.
O marido daquela que é agora sua mulher também gostava de homens e ele sente-se horrorizado com as praticas homossexuais, a que a mulher assistia, mas pede-lhe repetidamente para as relatar e tira disso prazer, o que lhe aumenta o sentimento de culpa.
Assume não ser suficientemente corajoso para repudiar a mulher que o faz consumir em desejo, por isso afasta-se dela através da Cruzada.

Ainda em Montpellier, Roger escandaliza-se ao assistir a uma acesa discussão entre Lord Raymond e o Bispo Adhémar, facto que a sua inocência não julgaria possível. Lord Raymond acusava o Bispo de ter enriquecido com a expedição, pois tinha levado os homens a vender-lhe as terras para poderem pagar as armas.

Ainda em França, Roger envergonha-se com o comportamento dos Normandos: pilham e violam durante o dia, entoam canções obscenas durante a noite.

Mas, em San Remo, os Normandos fazem justiça ao seu sangue Viking, violam e chacinam tudo o que encontram. A cidade ficou em estado de choque e as mulheres fugiam de todos os que tivessem uma Cruz na capa.

Durante a caminhada, Roger, chocado com o já visto, choca-se ainda ao constatar que os camponeses que integram a Cruzada, urinam e defecam enquanto marcham.

Chegados a Genova, recebem uma missiva papal.
O Papa pedia-lhes para fazerem um desvio a Lucca, cidade do interior onde estava, desde que o Vaticano fora ocupado pelo anti-Papa (Guiberto de Ravena, com o apoio de Henrique IV da Alemanha). O que Urbano II queria dos Cruzados era a utilização do exército para escorraçar Guiberto.

Roger questiona-se sobre a função da Cruzada, de peão e joguete da Igreja.
Questiona-se sobre a proibição divina de fazer derramar sangue e o derramamento de sangue que lhes pedem.
É claro que o Bispo lhe explica que só contra os Cristãos é que um soldado de Cristo está proibido de combater, contra os Turcos pode fazê-lo, dado que os Turcos não têm sangue de Cristo, mas sim de Satanás, pelo que estarão a limpar o mundo se o fizerem.
Mas Roger questiona-se: quem criou os Turcos? Se foram criados por Deus devem ter o seu sangue... Para além de que o que o Papa lhes está a pedir é que derramem sangue cristão em Roma...

Na Basílica de S Pedro, durante a missa, o sangue foi derramado e Roger passou a frequentar o acampamento dos Normandos..., encheu-se de vinho e de mulheres...

No Diário não o diz e eu não sei quem ganhou, nem se , fruto dessa batalha dentro da Basílica, Urbano II voltou ou não ao Vaticano, mas a Cruzada foi em seu nome, pelo que deveria ter conseguido alcançar de novo o poder do Vaticano, derrotando o outro Papa, ficando assim unificado o poder central sobre a Cruzada.

O que ele relata é a estadia de 5 meses em Brindisi, de onde, devido à falta de vento, não puderam seguir viagem.

Para se sustentar, a si e aos seus vassalos, trabalhou para um Judeu.
Chamava-se Mordecai. Era comerciante, "banqueiro", "agente de seguros". Com ele tem longas conversas sobre religião e fica perplexo com a bondade de um "infiel" e com a opinião do Judeu de que os Cristãos são belicosos.

Só em Abril, sete meses após a partida de Montpellier, chegam à Grecia.

São recebido, no maior dos faustos, pelo irmão do Imperador, que lhes dá conta das outras colunas de cruzados que se dirigem a Constantinopla: Godofredo de Bouillon , Robert da Flandres, Duque Robert da Normandia e promete-lhes protecção até Constantinopla

Na travessia da Macedónia foram violentamente assaltados a Roger fica perplexo quando se descobre que os assaltaram a soldo do irmão do Imperador...

É na Bulgária que se lembra do Judeu de Brindisi, da sua opinião sobre o serem belicosos os Cristãos . Aqui a população foge dos Cristãos como da maldição. Abandonam as aldeias e matam os que não podem fugir, pois tudo é preferível a ser assassinados pelos Cristãos.

Posteriormente, em consequência de um assalto, o Bispo Adhémar ficou às portas da morte.
O Bispo chamou-o, a ele, Roger.
Queria, antes de morrer cumprir a penitência que há uns anos um padre lhe tinha ordenado : pedir perdão a Roger. Há 30 anos atrás apaixonara-se pela mãe de Roger, mas ela preferiu o pai de Roger. Isso levou-o à vida eclesiástica. Quando o pai Roger morreu, vingou.se e fez com a mãe de Roger e os seus filhos ficassem sem os bens.
Adhémar contou-lhe também que o conhecia muito bem, dado que o padre René ( o confessor de Roger) lhe contava a confissão.

Roger passou mais uns dias com os Normandos... afogado em vinho e na certeza de que nao era santo um homem que tanto mal lhe fizera, a si e aos seus irmãos, em nome do amor pela mãe e na certeza de que tinha de ter cuidado com o teor das suas confissões , o que apenas fazia subir o valor do seu Diário.

Mas, haveria mais... Em Rousa, aldeia que lhes recusou provisões, pilhram e mataram, saqueram, destruiram tudo, ou seja, pensava, tinha saido de casa para se santificar, e até à data só se tinha decepcionado e derramado sangue cristão

Chegados a Constantinopla, ficou deslumbrado com a inovação dos orientais : chuveiro e sabão.

Todas as colunas de cruzados foram recebidas pelo Imperador.
A reunião discutia a proposta de Aleixo, segundo a qual ele protegeria e sustentaria o exército e em troca as cidades conquistadas seriam do Imperio Bizantino.

Raymon de Saint Giles recusou, pois como vassalo do Papa (facção francesa) o que conquistassem seria de Roma.
Roger dá aqui conta das divisões no seio dos nobres ocidentais, e, porque se colocou ao lado do seu senhor, dá conta da ambição de Godofredo, de Balduino da Bolonha, de Tancredo, dos nobres germânicos em geral, de quem tem má opinião, porque correram com os Judeus do seu país.

O acordo acaba por ser feito... aofim ao cabo o que Aleixo lhes oferece é imprescindível... precisam de protecção e de comida, mas nenhum está no seu intimo disposro a honrar o compromisso, todos afirmam que quanto ao resto, logo se vê!

Agora com as colunas juntas, tomou contacto com os Escoceses, que dizem que a sujidade prende a alma e protege do mal; com os Galeses que comem carne crua e bebem urina dos cães.

Relata a conquista de Niceia; o encontro do campo onde jaziam, a céu aberto, os milhares de cadáveres dos peregrinos da Cruzada do Povo, chacinados pelos Turcos; a travessia do Deserto do Sal, que os leva, para além da morte de muitos, a beber o sangue dos animais que vão morrendo e a sua propria urina.

E questiona-se sobre o valor da oração. Turcos e Cristãos pedem ambos, ao mesmo Deus, a vitória.
Pensa igualmente na incongruência de se dever sentir virtuoso por não ter sexo e não se dever sentir infame por estar encharcado em sangue humano.

As divisões internas acendem-se.
Depois de Cesareia, Balduino abandona a Cruzada. Fez-se adoptar como filho do rei de Edessa e, depois de o assassinar, proclamou-se rei de Edess.

A caminho de Antioquia, encontraram a comunidade dos Discípulos de S Paulo. Vivem de olhoss vendados, em imitação da cegueira de S Paulo, não permitem fêmeas na sua comunidade - até os insectos, depois de identificados, são mortos de forem fêmeas e a sua oração compõe de cânticos que entoam enquanto se masturbam.

1097

Antioquia é inexpugnável

Bohemundo, Raymond, Godofredo, discutem como conquistar a cidade. Agudizam-se as rivalidades; todos querem a possessão da cidade após a conquista.

Godofredo acabou por conseguir a liderança e decidem o Cerco.

Há fome no exército. Vão a Chipre, onde estava refugiado o Patriarca Grego de Jerusalém (Simeão) para com ele negociarem provisões. Em troca prescindem da possessão da Cidade Santa e oferecem-lhe o retorno ao seu trono, em Jerusalém, embora sujeito à autoridade do Papa, em Roma.

O Patriarca oferece-lhes provisões, mas em troca será dele a autoridade espiritual sobre a Cruzada, terá o poder de excomungar qualquer membro da peregrinação, será ele a dispôr das conquistas que vierem a a fazer e será dele a autoridade espiritual sobre Jerusalém. E assim acordam.

1098

Em Março chega, de Constantinopla, a frota inglesa com engenhos de cerco.

Chega também, mas do Egipto, a Grão Vizir, al-Afdal, o Magnífico, enquanto emissário do rei al- Mustali : é-lhes proposto a aprovisionamento do exército, em troca da entrega ao Egipto da parte Sul da Síria - que incluía Jerusalém, pelo que não aceitaram.

Entretanto sabe-se que os Muçulmanos se estão a juntar, sob o comando do sultão Ker-boga da Mesopotâmia.

Em Maio, com a proximidade de Ker-boga, discutem quem chefiará a retirada.

Verificam-se tantas deserções que o Bispo se vê obrigado a ameaçar com a excomunhão qualquer desertor.
Bohemundo tem outra alternativa :tomar a cidade de Antioquia antes que o exército muçulmano chegue.Como? Comprando um guarda no interior das muralhes. E o primeiro a entrar será o rei de Antioquia.

Concordam, e, com o ouro de Lord Raymond, compram a cumplicidade de Friouz; um esquadrão composto por vassalos de cada um dos senhores feudais sobe a escada lançada pelo Turco e entra na cidade, abrindo as portas aos Cruzados.

Assassínios, violações, pilhagens, saques, a queima dos cadáveres que empestavam as ruas provoca incendios, mas são os donos da cidade. Quem? Bohemundo foi o 1º a entrar, mas o ouro (que reaveram, pois a mortandade não salvou Friouz) era de Raymond e os dois disputaram a cidade, cada um lutando pelos bairros que controla.

Nenhum dos dois quer abrir mão de Antioquia, o exército, para além de descontente com a guerra civil, passa suficiente fome para comer os animais mortos.

Entretanto o Egipto conquista Jerusalém aos Turcos

Lord Raymond e Bohemundo defrontam-se em Ma-arat, cidade que ficou completamente destruída, com a derrota do 1º

Definida deste modo a posse de Antioquia por Bohemundo, rumam a Jerusalém, em Janeiro de 1099

Pelo caminho montam cerco à cidade de Arqa. è um cerco confortavel, onde não falta comida, mas estão descontentes pois aquele cerco apenas serve a ambição de Lord Raymond, que quer esquecer a sua derrota em Antioquia...

Mas, Jerusalém já não está na posse dos Turcos , e o Egipto propõe-lhes a suspensão da expedição guerreira, e em troca abrirão a Cidade Santa à peregrinações. Raymond não aceita. Tancredo acusa-o de se comportar como um conquistador.

Na Quaresma de 1099, Roger é outro que aquele que há 3 anos saiu da sua terra. A sua fidelidade para com o seu senhor é agora capaz de incorporar a ideia de que não está a agir bem; quanto à religião, não acredita que vá para o Céu um Cristão que mata um Turco inocente, nem que este último vá para o Inferno; quanto aos homens..., ri das razões pueris que há 3 anos o levaram a ingressar na Cruzada, ele, para quem hoje o acto de matar é feito de cabeça e de alma vazia. Tudo o que acreditava se tinha esvaído...

Olhou Jerusalém... 3 anos. mil léguas. 20 000 mortos
E conquistaram Jerusalém. A entrada dos Cruzados na cidade foi o que se esperava: mataram tudo o que se mexia.
Cansado, visitou o Santo Sepulcro. Estava vazio, como ele próprio. E perguntou-se porque viera de tão longe e tanto sofrera. Vencido pela cansaço, adormeceu lá dentro, para no dia seguinte verificar que a matança continuava, mesmo das pessoas nas suas próprias casas, quer fossem Cristãos, Muçulmanos ou Judeus; queimaram todas as mesquitas e sinagogas e o rei de Jerusalém era Godofredo de Bouillon.

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