segunda-feira, 2 de março de 2009

Druídas

A Ordem dos Sábios tinha 3 ramos.

Os bardos eram os historiadores da tribo.
Os vates ( de onde provém a palavra vaticinio) eram os seus adivinhos.
Os druídas eram os pensadores, interpretes da lei, os que curavam doentes, os guardiões dos mistérios da magia.

A principal obrigação dos druídas era manter o Homem, a Terra e o Outro Mundo em harmonia. Na sua qualidade de herdeiros de mil anos de sabedoria tribal, sabiam como manter o equilíbrio.

O bosque sagrado de carvalhos era o centro da rede de druídas, ( os bosques vivos eram os templos dos gauleses, porque os lugares sagrados não são escolhidos pelo Homem, são-lhe revelados.)
O bosque sagrado de carvalhos ficava na margem do rio Autara, afluente do Liger, o qual atravessava a terra da tribo dos carnutos, onde hoje se ergue a Catedral de Chartres.

Os Druidas para recuperar o equílibrio, podiam mesmo fazer poderosos e secretos rituais com vista à própria alteração do curso das estações.

Ao fim de um Inverno demasiado prolongado, os druídas dos carnutos levaram a cabo um novo ritual para desenredar as estações.
Claro que se estavam enredadas as estações, isso se devia a algum desiquilíbrio.
Implorando o auxílio do Outro Mundo para que os ajudasse a corrigi-lo, ofereceram ao Outro Mundo a pessoa mais idosa e reverenciada da tribo.
A sacrificada tomou o Inverno dentro de si, através de uma bebida. Assim mostraria ao Inverno como se morre para que a Primavera pudesse nascer.
Foi um ritual cheio de êxito. Na manhã seguinte à madrugada do ritual o Sol apareceu, embora só na tribo dos carnutos,onde o ritual tinha tido lugar.

Ainvar, apesar da proibição, não se conseguiu impedir de ir ver o ritual. Foi assim que viu morrer a sua avó, a sua única fonte de afecto. A sua dor foi tamanha, que largou do esconderijo e se foi abraçar à defunta. E ela voltou à vida por breves instantes.
Este episódio teve 2 consequências : Ainvar , que provara ser dotado de poderes mentais, por trazer à vida a sua avó, foi objecto de ensino por parte do supremo druída, com quem passou a viver e, como 2ª consequência, dado o estrondoso êxito do ritual, alguns jovens de outras tribos foram confiados aos Carnutos, para a iniciação na idade adulta. Entre eles vinha Vercingetorix.

A iniciação à idade adulta, ocorria após a sobrevivência a 15 invernos, assim, em Beltane ( dia do solstício de verão) daquele ano, Ainvar e Vercingetorix, para além de muitos outros, submeteram-se aos rituais.
Purificados por dentro e por fora, depois de uma noite de vigília, nus, sob as estrelas, um ritual de resistência à dor e de capacidade de vencer o medo, no dia seguinte, em grupos de 3, dois deles levavam um outro nos braços e assim saltavam uma larga cova onde havia uma fogueira (em Portugal, ainda há pouco,havia a tradição de saltar à fogueira, nos dias próximos ao solstício de Verão, comemorado enquanto dia do patrono de cada cidade - Sto António, s João, S Pedro) .
Ainvar e Vercingetorix, duas vontades que, desde que se conheceram, não pararam de se testar, fizeram equipa. O facto de a prova lhes ter revelado a perfeição dos seus esforços conjuntos, fez com que em ambos ficasse a imagem de um momento glorioso e ficaram amigos, apesar de, por não pertencerem à mesma tribo, se terem separado desde então.

É que havia muitas tribos gaulesas... Chegados à Gália, os Celtas que vieram do Leste, para fugir à fome, tomaram o nome de Gauleses. Dividiam-se em mais de 60 tribos, como os carnutos, os sénones, os parisii (parisienses) ( as mulheres dos parisii tinham fama de ser bonitas) , os bitúriges, os arvénios, os éduos. Estas tribos tinham como ponto comum o prazer de lutar umas contra as outras, para demonstrar a sua virilidade.


Quando Ainvar nasceu, a vidente viu nele augúrios de talento que seriam beneficos para a tribo e que implicariam uma longa viagem. Deram-lhe por isso o nome de Ainvar " aquele que viaja para longe"
Vercingetorix, da tribo dos arvénios, deve o seu nome à vidente da sua tribo, que lhe augurou o poder, e o seu nome significa "rei do mundo".

Nantorus, rei dos carnutos veio pessoalmente felicitar os druidas pelo exito do novo ritual e foi assim que conheceu Ainvar e concluiu que, apesar de filho de guerreiro, a classe mais alta dos gauleses, Ainvar, que muito o impressionou, só poderia vir a ser druida.
Druida significa " ter o conhecimento do carvalho"

Os Gregos chamavam às artes druidicas "ciencias naturais" e aos druidas "filosofos" Os Gregos compreendiam os Druidas melhor que os Romanos. Para estes os druidas eram sacerdotes.

Para os Druidas, o padrão da existência estende-se ininterruptamente a todos os seres; está constantemente em movimento, ligando-nos na vida e na morte à Fonte de todos os Seres
Os que, intuitivamente, seguem o padrão, tal como ele se aplica a cada um, parecem ter sorte, pois estão, sem saber, a recorrer às forças da criação, estão em contacto com as forças que influenciam os acontecimentos.
È esse o objectivo de cada druida - reconhecer o seu padrão e fazê-lo reconhecer a cada um dos membros da sua tribo
Para tanto aprendem a escutar as arvores, sem prestar atenção às exigências das articulações ou dos músculos, para delas receberem a sabedoria da sua idade, a energia que absorvem e libertam.

Há locais especiais onde a força vital é intensa - os bosques sagrados

Aí se relizavam os poderosos rituais como o do sexo.
Adicionando a energia de um jovem macho ao poder do local e aos cânticos dos restantes druidas, lançando a energia combinada sobre, por exemplo, os guerreiros que lá longe combatiam, acontecerá que esses guerreros lutarão com uma força que nem sabiam possuir e voltarão vencedores e como pessoas livres.

Ou do da morte, no qual um iniciado levava toda a sua riqueza, e peça a peça, era dela despojado, após o que era levado quase à morte, atraves de bebida mágica, e nesse estado se inteirava do caracter duplo da vida e da morte, do decurso infindável do padrão, onde a morte é apenas a continuação do ser natural por outras formas. Este ritual visava também o afastamento do medo da morte.

Em Beltane, dia do Solstício de Verão celebravam-se os seus casamentos, em redor de um tronco de arvore, tornado simbolo fálico para a ocasião. à sua roda dançavam as mulheres, antes que os homens de juntassem a elas e celebrassem. em orgia colectiva , a Fertilidade.
E porque a vida é mudança, os casados ficariam juntos enquanto ambos o quisessem. Os homens podiam ter várias mulheres. Bastava que em Beltane, depois de acordado entre eles, dançasse com a (nova) mulher, nos rituais colectivos e a levasse para sua casa, onde ficaria a viver.

O Solstício de Inverno - Samaine - era a estação dos começos

Vivendo em harmonia com as estações solares, os Celtas veneravam os seus druídas, conhecedores de magia, e estudiosos da energia do Universo, de que tudo faz parte, mesmo as almas dos mortos.

Os druídas usavam tonsura na cabeça para que o Sol aí deixasse a sua energia sem que o cabelo o impedisse. (tal como os nossos padres...)

Mas a vida dos Celtas iria mudar

Coriam boatos de que os Eduos eram aliados de Roma.
Os Eduos eram a tribo Gaulesa mais proxima dos territorios de Roma na Gália, ocupavam a Provence, nome que lhe vem de ter sido a 1ª Provincia romana na Gália.
O extremo sul da Gália, foi o primeiro território a ficar sob ocupação romana. Tudo o resto era a Galia livre.

Os Eduos, seduzidos pelo que o comércio com Roma lhes dava acesso, foram alterando o seu estilo de vida para os padrões romanos de prosperidade.

Este facto fez nascer facções discordantes, levaram-nos a lutas internas. Para melhor se equiparem para as lutas, até mesmo na tribo dos arvénios,os seduzidos por Roma, começaram a trocar cereais por guerreiros romanos.
É claro que todas as tribos tinham , na altura, mercadores romanos, como já tinham tido mercadores gregos, mas agora os éduos e os arvénios tinham soldados romanos.

Reuniram-se todas os druidas de todas as tribos: afirmavam uns que um povo que não venera a Natureza, que não é fiel ao padrão da Natureza, mas que deseja o seu controlo, é um povo cuja noção de ordem não se adequa à ordem celta ; a tribo do Lácio, (os romanos) é perigosa , partiram do Lácio e dominam agora tudo menos a Galia Livre, é preciso preparar-nos para os enfrentar, diziam outros; precisamos dos Romanos para o comércio, diziam outros, outros ainda acreditavam que eram suficientemente fortes para repelir qualquer ameaça militar, vinda dos habituados à vida mole, caso essa ameaça se verificasse.

Nantorus, rei dos Carnutos, acreditando no seu druida, que via a ameaça da cultura celta ser destruída, incumbiu-o de os proteger para que continuassem a ser um povo livre e Ainvar foi enviado para uma viagem ao mundo dos Romanos,

A caminho veio a saber que estalava a guerra na tribo dos arvénios e que o pai de Vercingetorix , candidato a futuro rei da tribo, e não apoiante dos Romanos, tinha sido assassinado, pelos que defendiam o comércio com Roma, dizia-se que a mando de Julio Cesar.

Indo ao encontro do amigo, encontrou Hanesa, um bardo que igualmente procurava Vercingetorix, porque acreditava num futuro heroi, tal como diziam as profecias, e como historiador queria estar proximo para o cantar e assim se tornar o bardo mais famoso da Galia.

Ainvar encontrou Vercingetorix e acabaram por ir juntos até às terras romanas.

No regresso, cada um na sua tribo, um como Druída, outro como carismático comandante de homens, levaram os seus a perceber a necessidade de se unirem as tribos contra o que tinham visto ser a estratégia de Cesar: aliar-se aos 2 mais poderosos da Gália - o rei dos arvénios e o juiz supremo dos eduos ( seduzidos pelos luxos romanos, cujo comercio trazia artigos dos lugares mais exóticos) , para que quando os gauleses entrassem em lutas internas, o que era previsível, algum chamasse o amigo romano, ou ainda, explorando a rivalidade entre gauleses e germânicos, sabendo que os germanicos estavam constantemente a querer forçar as fronteiras da Galia, aproveitar a 1ª ocasião, para se oferecer para combater do lado dos Gauleses, vindo atrás a "romanização", a ocupação.

Foi difícil unir as tribos celtas, mas o carisma de Vercingetorix e sobretudo o avanço das tropas de Cesar, derrotando , tribo a tribo, os Gauleses e apoderando-se das suas terras, levaram-nos a unir-se sob o comando de Vercingetorix.

Do tempo em que tinha estado na Provence recordava a disciplina das tropas romanas e tentou disciplinar o exercito. Se foi dificil unir as tribos, mais dificil ainda conseguir disciplina-los e ensina-los a não lutar por impulso e desordenadamente.
Com ajuda da magia e da manipulação da energia por parte dos druidas, com o talento e carisma de Vercingetorix que não acreditava em feitiçarias, formou-se um exercito que foi capaz de enfrentar Cesar, que foi capaz de derrotar os romanos em algumas batalhas.

Mas Cesar encontrou outra estrategia...
A principal arma de Cesar foi a incorporação de germanicos nas suas tropas. Impetuosos, tal como os gauleses, mas com furor assassino, conseguiam apavorar os gauleses.
Assim feria a dinamica de vitoria com que os Gauleses costumavam investir contra os romanos; depois de apavorados pelos germânicos, saía o exercito romano disciplinado e fresco e esmagava aqueles que não tinham debandado. Isto foi pelo menos o que aconteceu em Alesia, a batalha definitiva, a que significou a captura de Vercingetorix ... e os celtas foram romanizados.

E o que se conhece dos Celtas é o que os romanos sobre eles escreveram, ou o que foi sendo transmitido pela energia do universo e das arvores. Nada escreviam, nada construiam para alem das suas habitações ovais; eram Natureza e a sua civilização perdeu-se,
Mas, no solsticio de verão os druidas ainda se juntam em Chartres e em Stonehedge...

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